sexta-feira, 7 de novembro de 2008

A Crise para Leigos: Uma visão cristã do turbilhão financeiro de 2008 (3/3)

Após uma semana caótica e ultra-ocupada, estamos postando a terceira e última parte dessa abordagem cristã à Crise Financeira de 2008.


Diante do cenário e das questões que foram expostas nos dois últimos posts, concluímos:

1. Mais controle governamental, ou volta às responsabilidades básicas do governo?
Vivemos em um mundo caído em pecado. A ganância, a cobiça, o amor ao dinheiro sempre se constituirão em fortes tentações. Sempre darão oportunidade dos ricos e poderosos oprimirem os mais fracos. Por isso, em paralelo às garantias de liberdade e de livre iniciativa, o governo deve também proteger os cidadãos comuns da injustiça e da desonestidade. Nisso, nada mais fará do que voltar às suas responsabilidades básicas, recebidas de Deus. Mas isso não significa uma carta branca ao intervencionismo de toda sorte. Não representa uma ressurreição do socialismo moribundo.

2. A esfera econômica também pode ser palco de violência e de injustiça.
Por princípio, e por acreditar que esse é o projeto encontrado na Bíblia, sou avesso à grande maioria dos controles governamentais que se aceitam com naturalidade nos dias atuais. O propósito do Governo é dar garantia à segurança dos cidadãos para que eles possam desenvolver, em condições de igualdade e justiça, suas desigualdades e seus potenciais com o máximo de respeito ao próximo e em obediência à autoridade que os garante (Romanos 13.1-7). Mas essa tarefa requer, por vezes, a colocação de controles na sociedade – e na esfera econômica, exatamente para proteger os inocentes. Por exemplo, nenhum defensor de um papel reduzido ao governo, deveria ser contra a existência de sinais de trânsito. Mas isso não é extrapolar as funções do governo? Não! Ao ordenar o tráfego, ele protege as pessoas umas das outras; deve ter condições de punir os avançadores de sinais e de reconhecer os que os respeitam.

3. Proteção aos inocentes e a punição dos maus.
Assim, no mercado financeiro, algumas diretrizes que limitem a exposição indevida aos créditos de risco, estarão alinhadas exatamente com a proteção dos inocentes. Por outro lado, o resgate dos maus, com os bons pagando a conta, é uma inversão de valores e não pode se entrar nessa situação apressadamente, a não ser que uma profunda análise revele a medida necessária para a proteção dos que praticam o bem. Cabe ainda, ao governo, prevenir o crime, identificar e punir os malfeitores. Os governantes, como ministros de Deus, devem valorizar (e não sufocar em impostos) aqueles que “trabalhando sossegadamente” procuram ganhar o seu pão (2 Tessalonicenses 3.12). Em paralelo não podem deixar impunes aqueles que se aproveitam de situações, ou do poder que detêm, para enriquecimento pessoal ilícito, muitas vezes sugando dos que pouco têm.

4. O anseio por estabilidade.
No início desses ensaios, dissemos que instabilidade era a palavra da vez (com todas as suas derivativas: volatilidade, desconfiança, falta de credibilidade, insegurança, etc.). Nesse sentido, todo esse turbilhão financeiro vem demonstrar a bênção que é a estabilidade, tão rapidamente abalada. No Brasil, chegamos a quase nos acostumar com uma forma de vida mais economicamente estável, em função da solidez da moeda e de uma situação econômica favorável ao crescimento, experimentada nos últimos anos. É verdade que o aperto financeiro em nosso bolso nunca foi aliviado, mas passamos a planejar com mais tranqüilidade e, ingenuamente, passamos a achar que a estabilidade era permanente. Chegamos a arquivar os pacotes econômicos, como coisas do passado. É fácil enganarmo-nos a nós mesmos, mas uma simples olhada na história demonstrará como instabilidade é a norma nesse mundo. A capa da revista TIME, ao lado, não diz respeito a esta crise, mas à de 1987 - quase tão grave quanto a atual. Nossa memória é curta.

5. O choque de instabilidade.
Na atual conjuntura, já é possível antever: desaquecimento do mercado, menos vendas, contenção de despesas nas empresas, recessão, desemprego, incerteza em nosso dia-a-dia, instabilidade. De uma certa forma, nos sentimos espoliados em uma conquista que julgávamos alcançada. Com freqüência as pessoas se consideram aventureiras e corajosas, mas por que será que a estabilidade é algo tão almejado e perseguido? Por que as pessoas anseiam por uma repetibilidade das circunstâncias, pela condição de poderem planejar?

6. Estabilidade é característica divina.
Estabilidade é uma característica divina, por isso ela é uma bênção. Deus é estável. O pecado é fator de instabilidade. Deus é previsível. Satanás é enganador e astuto. A criação geme, sob o domínio do pecado. Deus instala a ordem no meio do caos. A mensagem de Deus é construtiva, no meio da turbulência. O plano de salvação é seqüencial, lógico e progressivo. Da morte espiritual, pela justificação procedente de Jesus Cristo, passamos à vida e, em santificação, aguardamos a glorificação e comunhão eterna com o Pai. A Palavra de Deus ensina estabilidade de vida, a estabilidade da família, a estabilidade da sua Igreja. Estabilidade podemos esperar de Deus, e só dele: o mais está fadado à desilusão.

7. Vivendo estavelmente em um mundo instável.
Deus prepara os seus servos para viverem estavelmente em um mundo instável. Jesus intercedeu não para que fôssemos tirados do mundo, mesmo com suas instabilidades e perigos, mas para que pudéssemos ser livres do mal. Na realidade, somos comissionados com a mensagem da estabilidade do evangelho, como embaixadores de um país celestial, no qual não existem pacotes, e os tesouros não são corrompidos pela inflação, especulação ou mal-versação; onde não existem crises, nem turbilhão financeiro. Serenidade e confiança em Deus é o remédio para os sobressaltos desta vida. A estabilidade que o mundo e os governantes nos oferecem, é passageira, é enganosa, é traiçoeira. A paz que recebemos de Jesus, difere da obtida do mundo: ela tem o efeito de serenar os nossos corações.

8. Enfrentando quaisquer crises.
Como enfrentar esta e outras crises? Com a paz de Deus em nossos corações, com a confiança de que ele reina e está em controle de tudo e de todos, com a certeza de que a vitória final é dele e de seus servos. O que pedir a Deus, para os anos à frente? Devemos estar orando para que ele possa atuar em nosso país, derramando a sua graça comum, para que a estabilidade, tão característica de sua pessoa, seja parte de nossa experiência e peregrinação, por onde ele nos guiar. Nessa crise, acima de tudo, além de contabilizarmos as perdas (agora, ou no futuro) façamos um balanço da nossa alma, dos nossos objetivos e de nossas motivações. Aprendamos com as circunstâncias, pois o Deus da providência nos ensina através das situações em que ele nos coloca.

"Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas diante de Deus as vossas petições pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus". Filipenses 4.6,7

Solano Portela(http://tempora-mores.blogspot.com/)