POR TODD PRUITT
Pastores, como todos os cristãos,
batalham contra o pecado. E, como todos os cristãos, pastores precisam de
graça. Mas, quando um pastor cai naqueles pecados que o desqualificam para esse
papel de líder espiritual, ele também precisa da correção e prestação de contas
da igreja. Ele precisa de palavras e orientação claras, não de mimos
sentimentais.
Nos últimos meses, diversos
pastores bastante conhecidos de várias denominações têm reconhecido que
cometeram adultério. Eu não tinha planejado comentar isso. De fato, depois de
uma dessas quedas públicas, eu pensei comigo mesmo: “Nem chegue perto desse
assunto!”. Entretanto, o problema de permanecer em silêncio é que muitas das
respostas a essas falhas públicas, infelizmente, têm sido equivocadas e
potencialmente perigosas. Além disso, algumas das confissões desses pastores
têm sido, sendo bastante franco, completamente inadequadas e até enganosas.
Adultério é a violação mais
brutal do laço conjugal. De fato, a violação do adultério é tão grande que
Deus, que odeia o divórcio, o permite em casos de adultério. O adultério
corrompe relacionamentos e arruína famílias inteiras. Quando um pastor comete
adultério, as consequências são exponencialmente mais destrutivas. Quer ele ache
que isso é justo ou não, o pecado sexual abre portas para o escárnio do
evangelho. O pastor adúltero provoca incontáveis danos ao testemunho público da
igreja e invocar a graça e soberania de Deus não pode aliviar ou, de alguma
forma, diminuir esse fato.
Em pelo menos algumas
denominações presbiterianas, os pastores fazem votos públicos de não apenas
guardar a doutrina da confissão de suas igrejas, mas de viver vidas exemplares.
Quando aqueles votos são flagrantemente violados, deve haver um reconhecimento
correto do pecado e clara evidência de arrependimento. De outra maneira, a
graça é escarnecida e o pecado, trivializado.
Enquanto eu considerava essas
situações lamentáveis e uma particular declaração pública de um pastor que
recentemente caiu, eu juntei umas poucas reflexões:
1. O pecado é sério,
principalmente porque é uma ofensa contra Deus.
Os evangélicos têm se tornado tão
impregnados com linguagem e categorias terapêuticas que mal parecem
conseguir ver o pecado como algo mais que uma questão privada de
crescimento pessoal. Em outras palavras, os evangélicos contemporâneos parecem
não mais entender o pecado como uma ofensa contra Deus e um insulto à graça de
Cristo. Mesmo em círculos (mais ou menos) reformados nós somos ensinados que
“somos livres para pecar três vezes”. (N.T.: Referência ao
livro Three Free Sins, em que o autor defende que os crentes
preocupam-se demais com a obediência e não conhecem direito a graça de Deus. O
autor pergunta: “o que você faria se você pudesse pecar três vezes sem
algum custo?”)
O Rei Davi era um grande pecador,
mas ele foi e permanece o modelo essencial do correto arrependimento. O Salmo
51 é sua oração de arrependimento após o profeta Natã confrontá-lo por seu
adultério e assassinato. Incidentalmente, Natã não correu até Davi para dizer:
“Você pecou, mas não se sinta mal porque, você sabe… graça!”.
Hoje, quando um pastor querido e
conhecido cai em pecado sexual, é de mau tom realmente lamentar pelo que esse
pecado fez à reputação de Jesus e ao testemunho da igreja. Qualquer declarações
públicas devem ser limitadas a expressões de graça barata para o pastor, esteja
ele arrependido ou não.
Mas, quando Davi se arrependeu,
ele deu expressão àquele aspecto mais hediondo do seu pecado.
Contra ti, só contra ti,
pequei
e fiz o que tu reprovas,
de modo que justa é a tua
sentença
e tens razão em
condenar-me. (Sl 51.4)
Nós podemos querer criar evasivas
com Davi usando o fato de que seus atos foram, de fato, contra outros também.
Entretanto, o ponto da confissão de Davi é que o pecado é, antes de tudo,
contra Deus. Isto é, enquanto o pecado quase sempre tem efeitos deletérios
sobre outras pessoas, é mais do que tudo, um motim contra Deus.
2. O mundo é um campo de
batalha espiritual.
“…o pecado o ameaça à porta;
ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo” (Gn 4.7). Essas
palavras direcionadas a Caim devem ecoar nos ouvidos de todos os crentes e,
especialmente, daqueles que são pastores. Nosso inimigo que é semelhante a um
ladrão, um mentiroso, um assassino, um anjo de luz, um enganador, um leão
ameaçador e, pior, não tira férias. Ele está lutando com toda a fúria de um
tirano derrotado. Não sejamos surpreendidos pela ferocidade da batalha ou a
astúcia de Satanás.
Pastores não deveriam apenas não
serem surpreendidos pelo calor da batalha; eles devem esperar por isso. Sua
posição não os isola das flechas do inimigo. Na verdade, o fato de que a
reputação deles impacta a reputação de Cristo deveria levá-los a muito temor.
Pastores são alvos em movimento numa guerra espiritual.
Não escute aqueles que, embora
insistindo na beleza da justificação, nada dizem sobre santificação. Não escute
aqueles que zombam de chamados à santidade como se tais apelos fossem, por
natureza, legalistas. Eu creio que nós podemos seguramente concluir que
valorizar demais a santidade não é o principal problema dentro das igrejas
evangélicas.
3. Nós não somos tão fortes
quanto pensamos.
Nenhum de nós chegou ao fim.
Todos os crentes, não importa quão maduros, continuarão a batalhar contra o
pecado interno até o glorioso dia em que veremos Jesus. Mas, até esse dia,
nenhum cristão é intocável. O pecado nos atrairá e prometerá o que ele não pode
dar. Nós devemos ter opiniões muito modestas sobre nossas forças contra tais
tentações. Quando um pastor falha, não permitamos nem por um momento que nos
lisonjeemos com a ideia de que estamos acima desse pecado.
4. Meu coração é enganoso.
Quando um pastor cai, há algo em
meu coração que quer dizer: “Eu jamais farei isso!”. E, dependendo de quem
tombou, eu escuto uma voz em mim que diz: “Eu sabia que esse cara era
esquisito!”. É claro, essa voz em mim sou eu.
É um lembrete de que eu devo
diariamente mortificar a tentação de me estimar demais.
5. Chame o pecado pelo nome.
Quando se trata de dar nome ao
pecado, nós somos os mestres do eufemismo. Nós queremos suavizar a realidade do
pecado chamando-o de outra coisa. Mas, nenhuma análise nossa pode ignorar o
fato de que o pecado é tão maligno que exigiu o derramamento de sangue. O
pecado é tão ruim que, para pecadores como nós sermos perdoados, Jesus teve de
ser nosso substituto para suportar a justa ira de Deus em nosso favor. Nós
mostramos desdém por esse sacrifício estonteantemente belo quando criamos
eufemismos para o pecado usando palavras como imperfeição, engano ou
relacionamento inapropriado.
6. Não racionalize seu
pecado.
“Minha esposa estava mal, então
procurei conforto nos braços de outro” não é arrependimento. Novamente, nós
aprendemos com a confissão de pecado de Davi – “meu pecado”, “minhainiquidade”,
“pequei, e fiz o que é mal à tua vista”, etc. Não há uma boa razão para
um pastor cometer adultério. Não há nunca um fator mitigador que, de alguma
forma, torna o adultério um ato razoável ou compreensível.
7. Sim, doutrina realmente
importa.
Pastores ao longo de todo o
espectro teológico caem em pecado sexual. Liberais e conservadores, batistas e
presbiterianos, carismáticos e católicos têm manchado o nome de Cristo com seu
pecado sexual. Assim, nenhum sistema doutrinário ou erro pode ser culpado pelo
problema do adultério entre pastores. Ainda assim, uma doutrina da santificação
robusta é vital para a saúde espriritual. Um sistema teológico que ignora em
grande medida os imperativos da Escritura e deixa pouco espaço para uma busca
deliberada da santidade priva os homens de um dos principais meios que Deus usa
para conformá-los a Cristo. A teologia dos Três Pecados sem Custo não
consegue nem pode promover santidade entre o povo de Deus.
8. Romanos 6 ainda vale.
“Que diremos pois?
Permaneceremos no pecado, para que a graça abunde? De forma alguma! Nós,
que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?” (v.
1-2).
Sim, nós somos perdoados em
Cristo. Sim, nós somos justificados completamente pela vida, morte e
ressurreição de Jesus. Não, não há nada que possamos fazer para perder nossa
justificação. Nós devemos pregar essas verdades. Nós devemos viver nessas verdades.
Mas essas benditas realidades não devem jamais ser usadas como licença para
pecar ou minimizar a necessidade de arrependimento quando pecamos.
O mesmo homem que escreveu
Romanos 8 também escreveu Romanos 6. O mesmo Jesus que cancelou a maldição do
pecado também derrotou o poder do pecado. O pecado já não é nosso comandante.
Em Cristo já não somos totalmente depravados. Nosso ser caído está, pelo poder
de Cristo, sendo remendado.
9. Pastores presbiterianos
deveriam ser presbiterianos na prática.
Conselhos e presbitérios existem
por uma série de motivos, um dos quais é prover comunhão, encorajamento e
prestação de contas para os pastores. Quando um pastor presbiteriano não se
envolve fielmente (seja porque ele é famoso ou “ocupado” demais) com a estrutura
oferecida pelo governo presbiteriano, então ele está removendo de sua vida um
dos meios que o Senhor proveu para sua saúde espiritual e emocional.
10. Cristianismo de
celebridade é perigoso.
A cultura de celebridade invadiu
a comunidade “reformada” tão claramente quanto invadiu o evangelicalismo geral.
Isso tem sido desastroso. Ter fãs é uma coisa perigosa para pastores. Amigos?
Sim! Pessoas que o encorajam? Sim! Mas fãs são perigosos porque fãs estão atrás
de algo. Fãs estão atrás do esplendor da fama de seu herói. Fãs nunca dirão
aquela palavra dura ou farão aquela pergunta inconveniente.
Incidentalmente, o
presbiterianismo corretamente aplicado torna o status de celebridade algo
bastante difícil de um pastor alcançar. É assim porque, na teoria, uma igreja
presbiteriana rodeia o pastor com homens que cuidam dele, em parte criando
limites saudáveis, lembrando-lhe de suas limitações e fazendo ele prestar
contas de seu chamado. Seus irmãos no conselho e no presbitério são seus
amigos, não seus fãs.
Pastor que caiu em pecado, seja
discreto. Em nome de tudo o que é decente, saia das redes sociais. Nós não
precisamos de seus tweets triunfantes sobre as grandes coisas que você está
aprendendo sobre a graça após violar seus votos mais sagrados. Você não é mais
uma marca. Na verdade, você nunca deveria ter sido uma marca. Você deu aos
escarnecedores uma grande razão para profanar o nome de Jesus. Você tem
amontoado zombaria sobre a igreja. Para de agir como se você ainda tivesse uma
plataforma legítima da qual ensinar. Você pode demonstrar a autenticidade de
seu arrependimento ao silenciosamente colocar-se sob a autoridade de uma igreja
onde você humildemente pode aprender anonimamente.
11. Nem todos os pecados são
iguais.
Enquanto é verdade que todos os
pecados são igualmente condenatórios, nem todos os pecados promovem danos
iguais nesta vida. Nós sabemos disso a partir da Escritura e da experiência.
Por exemplo, há certas virtudes que devem caracterizar as vidas dos bispos (1
Tm 3; Tt 1) precisamente porque há certas exigências morais colocadas sobre
aqueles que exercem o episcopado na casa de Deus. Gloriosamente, se um pastor
que comete adultério arrepende-se, ele pode e deve ser restaurado à comunhão da
igreja. De fato, recusar a restauração de um pecador arrependido é um pecado
grave. Mas comunhão e serviço dentro da igreja são muito diferentes de ter a
responsabilidade da liderança espiritual. Restaure o adúltero arrependido à
comunhão. Mas ele se desqualificou para ser um pastor. Jesus removeu a maldição
do pecado. Mas enquanto nós estivermos abaixo do céu, devemos ainda suportar
muitas das consequências temporais do pecado.
Adultério é um desastre moral.
Arruína reputações. É, nas palavras de John Armstrong, “a mancha que fica”. O
pastor que cai em adultério desqualificou-se em virtude do fato de que ele não
tem mais boa reputação. O fato de que existem muitos que creem que o adultério
não desqualifica um homem do ofício de pastor (ou presbítero) reflete mais o
discernimento dessas pessoas que a real natureza do adultério
Traduzido por: Josaías Jr. Em: Reforma 21