quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

NATAL É PAZ

John Henry Jowett

“Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens a quem ele quer bem” Lucas 2.13,14 [/]


Dizem, e quando não o fazem, pensam:

- Onde está a boa vontade entre os homens?
- Onde está a paz que nos foi prometida?

E as perguntas continuam nesse tópico. Porém, a mensagem apresentada até aqui, não está completa. Não foi dada a atenção à frase inicial pronunciada pelos anjos: “Glória a Deus nas maiores alturas”. Onde está a glória a Deus?

Nós simplesmente omitimos essa primeira parte. Começamos pelo final e excluímos o início. Qual é a mensagem completa dos anjos, com todas as partes harmonicamente dispostas?

“Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens a quem ele quer bem.” Lucas 2.13,14

Paz não é algo avulso, sem relação com o restante. A paz está ligada à outra parte da frase e completamente dependente dela. A paz é fruto de determinados relacionamentos e, se esses relacionamentos forem assegurados, a paz será inevitável.

Vejamos alguns exemplos: “Tu, Senhor, guardarás em perfeita paz aquele cujo propósito está firme, porque em ti confia” (Isaías 26.3). “Os que amam a tua lei desfrutam paz...” (Salmo 119.165a). “Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Romanos 5.1).

Em cada uma dessas passagens das Escrituras, a paz é apresentada não como raiz, mas como fruto; o fruto de uma justiça pessoal com Deus. E é exatamente aí que a mensagem dos anjos começa para os pastores, nos campos próximos a Belém. Não começou com boa vontade entre os homens nem com paz na terra, mas com o fator que as produziria: “Glória a Deus nas alturas”.

No entanto, devemos perguntar em meio aos dias escuros pelos quais atravessa a raça humana, em meio a tanta má vontade, a conflitos raciais etc., onde nosso pensamento se inicia? Será que é no mesmo lugar onde começou a mensagem dos anjos, na correção do supremo relacionamento, na reconciliação entre Deus e a raça humana?

Se tão somente déssemos glória a Deus nas alturas, a paz na terra seria assegurada e a boa vontade entre os homens estaria presente.


Fonte: Revista Lar Cristão - Ano 16 Edição 77E

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

OS CONGREGACIONAIS E O "DIA DE AÇÃO E GRAÇAS"



Entre os feriados americanos de maior destaque está o "Dia de Ação de Graças". E os Pais Peregrinos, separatistas congregacionalistas, que estão na origem dos Congegacionais americanos, estão diretamente ligados ao mesmo.
Os primeiros separatistas congregacionais, vindos da Holanda e da Inglaterra no famoso navio Myflower, se fixaram em Plymouth Rock em 11 de Dezembro de 1620. Seu primeiro inverno foi devastador. No início do outono seguinte, tinham perdido 46 pessoas das 102 que ali chegaram. Mas a colheita de 1621 foi magnífica. E os restantes colonos decidiram celebrar com uma festa - incluindo os 91 índios que os tinham ajudado a sobreviver neste primeiro ano. A festa foi um festival de "agradecimento" e durou três dias.



Esta festa de "ação de graças" não foi repetida no ano seguinte. Mas, em 1623, durante uma grave seca, os peregrinos se reuniram em oração, pedindo por chuvas. Quando uma longa e constante chuva chegou logo no dia seguinte, o governador William Bradford proclamou ali um dia de Ação de Graças, novamente convidando seus amigos índios para a celebração
Foi preciso esperar até junho de 1676 para que outro Dia de Ação de Graças fosse proclamado. Em 20 de junho de 1676, o Conselho de Governadores de Charlestown, Massachusetts, teve uma reunião para determinar a melhor forma de expressar os agradecimentos pela boa fortuna já que tinham visto sua comunidade solidamente estabelecida. Por votação unânime ficou estabelecido proclamar 29 de Junho como um Dia de Ação de Graças.


Outubro de 1777 marcou a primeira vez que todas as 13 colônias americanas se uniram para celebrar esta festa.
George Washington proclamou um Dia Nacional de Ação de Graças em 1789, embora alguns se opusessem a ele. Houve discordância entre as colônias, sentindo que muitas das dificuldades de alguns irmãos peregrinos não justificava um feriado nacional.
Foi Sarah Josepha Hale, uma editora de revista, cujos esforços acabaram por levar ao que nós hoje reconhecemos como o Dia de Ação de Graças. Hale escreveu muitos editoriais para defender sua causa no Boston Ladies' Magazine e mais tarde, em Godey's Lady's Book. Finalmente, após uma campanha de 40 anos escrevendo editoriais e cartas aos governadores e presidentes, a obsessão Hale tornou-se realidade quando, em 1863, o Presidente Lincoln proclamou a última quinta-feira de Novembro como um dia nacional de Ação de Graças. A data foi mudada algumas vezes, mais recentemente por Franklin Roosevelt. E em 1941, o Dia de Ação de Graças foi finalmente sancionado pelo Congresso como um feriado, como a quarta quinta-feira de Novembro.
(Texto copiado: http://historiacongregacional.blogspot.com
Este é mais um marco histórico na vida do povo Congregacional.
Saiba mais:
http://www.matthewcmanning.com/archives/messages/thanksgiving.asp

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Regime Congregacionalista

O regime de governo eclesiástico conhecido como Congregacional é um sistema onde cada congregação local é autônoma e independente. A igreja local possui autonomia para sua própria reflexão teológica, expansão missionária, relação com outras congregações e seleção de seu ministério. O Congregacionalismo está baseado nos seguintes princípios:
1. Cada congregação de fiéis, unida pela adoração, observação dos sacramentos e disciplina cristã, é uma Igreja completa, não subordinada em sua administração a qualquer outra autoridade eclesiástica senão a de sua própria assembléia, que é a autoridade decisória final do governo de cada igreja local.
2. Não existe nenhuma outra organização ou entidade maior ou mais extensa do que uma Igreja local a quem pode ser dada prerrogativas eclesiásticas ou ser chamada de Igreja.
3. As igrejas locais estão em comunhão umas com as outras, são inter-dependentes e estão inter-comprometidas no cumprimento de todos os deveres resultantes dessa comunhão. Por isso, se organizam em Concílios, Sínodos ou Associações. Entretanto, essas organizações não são Igrejas, mas são formadas por elas e estão à serviço delas.

Congregacionalismo no Brasil

O Congregacionalismo Brasileiro não tem suas origens históricas no Congregacionalismo Britânico ou Norte-Americano, mas sim no trabalho missionário indenominacional realizado pelo médico-missionário escocês de origem presbiteriana Robert Reid Kalley e sua esposa Sarah Poulton Kalley, que chegaram ao Brasil em 1855. Eles começaram um trabalho de evangelização e mais tarde fundaram, no Rio de Janeiro, a Igreja Evangélica Fluminense (11/07/1858), a Igreja Evangélica Pernambucana, no Recife, e uma congregação que se tornou Igreja Evangélica de Niterói (1863,atual 1ª Igreja Evangélica e Congregacional de Niterói). Todas essas igrejas eram apenas igrejas evangélicas brasileiras, sem nenhum vínculo denominacional com igrejas no exterior.
Apesar de ter sido batizado na Igreja da Escócia (presbiteriana), Kalley não possuía vínculos com nenhuma denominação e, ao estabelecer igrejas no Brasil, se afastou da tradição presbiteriana, rígida em matéria de organização eclesiástica, e introduziu uma estrutura congregacionalista, onde cada igreja local é independente e autônoma. Além disso, Kalley deixou também a prática do batismo infantil, que é realizado tanto por Presbiterianos quanto por Congregacionais. Por causa disso, algumas pessoas identificaram as igrejas que Kalley fundou como batistas. Quando o missionário William Bowers foi enviado ao Recife para pastorear a Igreja Evangélica Pernambucana, por um equívoco foi divulgado que ele estava sendo ordenado para o pastorado de uma igreja batista. Acerca disso Kalley se pronunciou e escreveu enfaticamente demonstrando sua desaprovação:
"Desde o início o nome da igreja tem sido, 'Igreja Evangélica', e ela é filha da Igreja Evangélica do Rio, e nenhuma das duas têm sido igrejas batistas... Eu não sou batista; não tenho nada a ver com diferenças denominacionais... Eu sabia que ele [Bowers] foi batizado como crente e que se opõe ao batismo de crianças. Eu sabia que ele não considera a imersão como essencial ao batismo cristão em água, e me dispus a conduzí-lo ao pastorado da igreja sem nenhuma inovação, e fiquei feliz por poder ajudá-lo a ir e trabalhar como ministro cristão (como eu sempre tenho sido), sem restrições denominacionais" [1]
Era dessa forma que Kalley definia a si mesmo: um ministro cristão, sem restrições denominacionais. Ainda acerca da Igreja Evangélica Pernanbucana, Kalley escreveu em outra ocasião:
"A Igreja Evangélica Pernambucana não pertence a nenhuma denominação estrangeira; não é presbiteriana porque esta considera válido o batismo romano e pratica o batismo de crianças; aproxima-se mais da denominação batista, mas prefere ter a liberdade de admitir à comunhão qualquer crente fiel e obediente ao Senhor... É, pois, uma igreja evangélica brasileira" [2].
Em 1913, as Igrejas originadas do trabalho de Kalley se agruparam na União de Igrejas Evangélicas Indenominacionais do Brasil, que mais tarde, depois de várias mudanças de nome, seria chamada de União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (UIECB). O termo "Congregacional" foi adotado por essas igrejas (apesar da resistência inicial) para designar a forma de governo pela qual são regidas, e não para indicar suas origens históricas, uma vez que essas igrejas são fruto de um trabalho indenominacional, sem nenhuma relação com as Igrejas Congregacionais Britânicas ou Norte-Americanas.
A UIECB junto com a AIECB (Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil), constituem as duas principais e maiores fraternidades do Congregacionalismo brasileiro.
As Igrejas originadas do trabalho de Kalley, subscrevem como declaração de fé a Breve Exposição das Doutrinas Fundamentais do Cristianismo. Elas batizam adultos por aspersão, não batizam crianças, e em seu corpo eclesiástico possuem pastores, presbíteros e diáconos.
Outros grupos congregacionalista brasileiros são:
• Igreja Cristã Evangélica do Brasil, que por algum tempo esteve associada com a UIECB.
• Igreja Evangélica Congregacional do Brasil, de origem alemã pietista, sua presença está concentrada em sua maior parte na Região Sul do Brasil.
• Associação das Igrejas Congregacionais Conservadoras do Brasil (AIECCB) - formada em 1998 em uma assembléia realizada na Igreja Congregacional da Avenida Canal em Campina Grande - PB.
• Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais Brasileiras
• Comunhão das Igrejas Bíblicas Congregacionais
A UIECB é um dos membros fundadores da Fraternidade Mundial Evangélica Congregacional.

sábado, 6 de dezembro de 2008

CRÔNICA DO QUINTO DIA (SEGUINTE)

(Amados Irmãos)

Por Edson e Ilana Mesquita
Primeira Igreja Batista de Blumenau

Graça e paz, irmãos

Hoje é o quarto dia consecutivo de sol, contrariando as previsões meteorológicas! Isso ajuda bastante na limpeza da cidade, porém em alguns lugares ainda há até um metro e meio de lama. As máquinas não conseguem fazer um trabalho mais rápido enquanto não secar.

Das mil e oitocentas ruas da cidade, mais de oitocentas foram danificadas e ainda há trezentas totalmente bloqueadas.

O Exército continua controlando o acesso às áreas de risco. Trinta e cinco por cento do território da cidade é agora considerado área de risco. Sessenta por cento das áreas desocupadas não poderão mais ser ocupadas. Os abrigos estão lotados ainda (escolas, igrejas, creches, centros sociais). As pessoas não têm para onde ir, pois perderam suas casas, móveis, mas também o terreno; diferente das outras enchentes que, após baixarem as águas, todos retornavam às suas próprias casas e a vida voltava ao normal.

Alguns conseguiram lugar em casas de familiares, parentes e amigos, ou conseguiram alugar as últimas casas e apartamentos disponíveis. Agora não há mais casas para alugar. Os que estão nos abrigos terão que ficar lá até que novas casas sejam construídas. Muitas pessoas estão indo embora da cidade, voltando para suas cidades de origem, pois ficaram traumatizadas com a tragédia, e também porque não têm mais moradia.

O fornecimento de água e energia elétrica, aos poucos, vai voltando ao normal. Em alguns lugares nasceram verdadeiros rios que ainda correm pelo meio das ruas e estradas. A revista Veja usou o termo "dilúvio" para denominar o acontecido. Agora temos uma pequena noção do que significa um dilúvio. O fenômeno climático que causou o que está sendo considerada a maior catástrofe natural do Brasil não pode ser explicado. Explica-se como aconteceu, mas não o porquê. Foi simplesmente um mistério!

"As águas te viram, ó Deus, as águas te viram, e tremeram; os abismos também se abalaram" (Sl. 77:16).

Pouco mais de uma semana depois, o Conselho de pastores da cidade, criou um comitê de técnicos para elaborar um projeto de construção de casas populares. A prioridade emergencial do poder público, agora, é a recuperação da malha viária.

Os pastores, conscientes de seu papel profético e sacerdotal, têm a grande oportunidade de se posicionarem como pastores de uma cidade e não mais de uma igreja local.

A Voz da Primeira Igreja Batista de Blumenau

CRÔNICA DO DIA SEGUINTE

(The Day After)

Por: Pastor Edson e Ilana Mesquita
Primeira Igreja Batista de Blumenau

Blumenau vive um momento trágico. Não há precedentes na história de nossa cidade. Palavras jamais poderiam expressar as cenas diante de nossos olhos.

Finalmente, consegui um ponto de internet, depois de dois dias ilhado, totalmente isolado de minha família e dos irmãos. Fomos celebrar um casamento sábado à noite no interior da cidade vizinha de Gaspar e não conseguimos mais retornar. Minha esposa ainda está lá, longe de casa, até que as estradas sejam liberadas. Cheguei à minha casa um pouco a pé, um pouco de carona, passando por muita lama, barreiras, áreas alagadas... Graças a Deus encontrei meus familiares bem. Vários irmãos que estavam em retiros no final de semana estão ilhados e isolados desde sábado.

O que aconteceu em Blumenau é algo inexplicável. Os montes simplesmente vieram abaixo. Não foi uma enchente como todas as outras que já atingiram nossa cidade no passado.

Para que vocês tenham uma idéia, vou tentar explicar: As enchentes acontecem quando o Rio Itajaí Açu transborda. Aos poucos a água vai atingindo os pontos mais baixos a partir do rio, ou seja, de baixo para cima. As enxurradas são águas que vêm de cima para baixo. O que aconteceu aqui foram as duas coisas.

Há três meses chovia sem parar em toda a região. Era uma chuva fraca, mas, aos poucos, foi encharcando o solo até que ficou sem a possibilidade de absorver mais a água que caía. No sábado à tarde, dia 22, uma enxurrada caiu sobre a cidade e as montanhas começaram a cair, arrastando casas inteiras com as famílias em seu interior. Mas isso foi apenas o começo. Depois daquela, sucessivas enxurradas começaram a cair durante toda a noite de sábado e o dia de domingo. Os ribeirões, afluentes do Rio Itajaí, transbordaram, ao mesmo tempo em que o nível do Rio Itajaí subia com as águas que desciam das chuvas que caiam no Alto Vale. As águas da enxurrada não tinham vazão e a correnteza foi arrastando tudo o que vinha pela frente.

Olhando ao redor, parece que não ficou um ponto onde os montes não deslizaram. Não são áreas de risco, desmatadas, mas áreas com vegetação espessa, abundante, bem florestadas, que vieram abaixo. A vegetação não segurou as montanhas. É inexplicável e indescritível toda essa situação. Ricos e pobres foram atingidos.

Estamos dando suporte às pessoas atingidas na medida do possível. Milhares de pessoas perderam suas casas com tudo que tinham. Diferente das outras enchentes, elas não tem para onde ir agora. Os que conseguiram sair de suas casas apenas com a roupa do corpo estão agradecidos a Deus por suas vidas.

Ainda estamos, aos poucos, tomando conhecimento da situação. A comunicação é bem precária. Não há água potável nem luz. E não se tem previsão certa de quando tudo será normalizado. O lodo cobre a maioria das ruas e casas.

Como profetas, sabemos que tudo o que acontece no reino físico é uma mensagem do reino espiritual. Assim como Jó, no momento da aflição, se aproximou de Deus para depois conhecê-Lo na intimidade e dizer: “Agora meus olhos te vêem...”, cremos também que esta tragédia inclinará o coração desta cidade para Deus. Blumenau será chamada Cidade do Senhor.

O Senhor mudará nossa sorte! Não só nos restituirá, mas nos levará debaixo de um temor nunca antes experimentado para uma restituição em dobro, assim como fez com Jó.

Temos plena consciência de nossa responsabilidade sobre este território. Não ignoramos o que pode causar as catástrofes. Por favor, orem por nós, orem pela igreja em Blumenau, para que haja arrependimento. Orem pelos sacerdotes, para que exerçam seu papel de chorarem entre o pórtico e o altar e cessarem as competições, e divisões, e invejas, e amarguras..., para que venha a restauração e a restituição. Orem pela nossa unidade, pois é assim que conquistaremos esse território e veremos todo joelho se dobrando e toda língua confessando que Jesus Cristo é o Senhor.

Obrigado por ouvirem nosso apelo.

Fiquem na paz,

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Louvor e Invocação



Agostinho de Hipona

És grande, Senhor e infinitamente digno de ser louvado; grande é teu poder, e incomensurável tua sabedoria. E o homem, pequena parte de tua criação quer louvar-te, e precisamente o homem que, revestido de sua mortalidade, traz em si o testemunho do pecado e a prova de que resistes aos soberbos. Todavia, o homem, partícula de tua criação, deseja louvar-te.

Tu mesmo que incitas ao deleite no teu louvor, porque nos fizeste para ti, e nosso coração está inquieto enquanto não encontrar em ti descanso.

Concede, Senhor, que eu bem saiba se é mais importante invocar-te e louvar-te, ou se devo antes conhecer-te, para depois te invocar. Mas alguém te invocará antes de te conhecer?

Porque, te ignorando, facilmente estará em perigo de invocar outrem. Porque, porventura, deves antes ser invocado para depois ser conhecido? Mas como invocarão aquele em que não crêem? Ou como haverão de crer sem que alguém lhos pregue?

Com certeza, louvarão ao Senhor os que o buscam, porque os que o buscam o encontram e os que o encontram hão de louvá-lo.

Que eu, Senhor, te procure invocando-te, e te invoque crendo em ti, pois me pregaram teu nome. Invoca-te, Senhor, a fé que tu me deste, a fé que me inspiraste pela humanidade de teu Filho e o ministério de teu pregador.


(Confissões, Agostinho de Hipona)

htpp/ jornalurrodoleao.com.br

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

As Implicações do Livre-Arbítrio

por

C. H. Spurgeon



De acordo com o esquema do livre-arbítrio, o Senhor tem boas intenções, mas precisa aguardar como um servo, a iniciativa de sua criatura, para saber qual é a intenção dela. Deus quer o bem e o faria, mas não pode, por causa de um homem indisposto, o qual não deseja que sejam realizadas as boas coisas de Deus. O que os senhores fazem, senão destronar o Eterno e colocar em seu lugar a criatura caída, o homem ?

Pois, de acordo com essa teoria, o homem aprova, e o que ele aprova torna-se o seu destino. Tem de existir um destino em algum lugar; ou é Deus ou é o homem quem decide. Se for Deus Quem decide, então Jeová se assenta soberano em seu trono de glória, e todas as hostes Lhe obedecem, e o mundo está seguro. Em caso contrário, os senhores colocam o homem em posição de dizer: "Eu quero" ou "Eu não quero. Se eu quiser, entro no céu; se quiser, desprezarei a graça de Deus. Se quiser, conquistarei o Espírito Santo, pois sou mais forte do que Deus e mais forte que a onipotência. Se eu decidir, tornarei ineficaz o sangue de Cristo, pois sou mais poderoso que o sangue, o sangue do próprio Filho de Deus. Embora Deus estipule Seu propósito, me rirei desse propósito; será o meu propósito que fará o dEle realizar-se ou não".

Senhores, se isto não é ateísmo, é idolatria; é colocar o homem onde Deus deveria estar. Eu me retraio, com solene temor e horror, dessa doutrina que faz a maior das obras de Deus - a salvação do homem - depender da vontade da criatura, para que se realize ou não. Posso e hei de me gloriar neste texto da Palavra, em seu mais amplo sentido: “Assim, pois, não de pende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Romanos 9:16).



Fonte: Revista Fé para Hoje.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Crente Fica Doente?

Texto de Augusto Nicodemus Lopes
Creio em milagres. Creio que Deus cura hoje em resposta às orações de seu povo. Durante meu ministério pastoral, tenho orado por pessoas doentes que ficaram boas. Contudo, apesar de todas as orações, pedidos e súplicas que os crentes fazem a Deus quando ficam doentes, é um fato inegável que muitos continuam doentes e eventualmente, chegam a morrer acometidos de doenças e males terminais.

Uma breve consulta feita à Capelania Hospitalar de grandes hospitais de algumas capitais do nosso país revela que há números elevados de evangélicos hospitalizados por todos os tipos de doença que acometem as pessoas em geral. A proporção de evangélicos nos hospitais acompanha a proporção de evangélicos no país. As doenças não fazem distinção religiosa.

Para muitos evangélicos, os crentes só adoecem e não são curados porque lhes falta fé em Deus. Todavia, apesar do ensino popular que a fé nos cura de todas as enfermidades, os hospitais e clínicas especializadas estão cheias de evangélicos de todas as denominações – tradicionais, pentecostais e neopentecostais –, sofrendo dos mais diversos tipos de males. Será que poderemos dizer que todos eles – sem exceção – estão ali porque pecaram contra Deus, ficaram vulneráveis aos demônios e não têm fé suficiente para conseguir a cura?

É nesse ponto que muitos evangélicos que adoeceram, ou que têm parentes e amigos evangélicos que adoeceram, entram numa crise de fé. Muitos, decepcionados com a sua falta de melhora, ou com a morte de outros crentes fiéis, passam a não crer mais em nada e abandonam as suas igrejas e o próprio Evangelho. Outros permanecem, mas marcados pela dúvida e incerteza. Eu gostaria de mostrar nesse post, todavia, que mesmo homens de fé podem ficar doentes, conforme a Bíblia e a História nos ensinam.

1. Há diversos exemplos na Bíblia de homens de fé que adoeceram. Ao lermos a Bíblia como um todo, verificamos que homens de Deus, cheios de fé, ficaram doentes e até morreram dessas enfermidades. Um deles foi o próprio profeta Eliseu. A Bíblia diz que ele padeceu de uma enfermidade que finalmente o levou a morte: “Estando Eliseu padecendo da enfermidade de que havia de morrer” (2Re 13.14). Outro, foi Timóteo. Paulo recomendou-lhe um remédio caseiro por causa de problemas estomacais e enfermidades freqüentes: “Não continues a beber somente água; usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas freqüentes enfermidades” (1Tm 5.23).
Ao final do seu ministério, Paulo registra a doença de um amigo que ele mesmo não conseguiu curar: “Erasto ficou em Corinto. Quanto a Trófimo, deixei-o doente em Mileto” (2Tm 4.20).

O próprio Paulo padecia do que chamou de “espinho na carne”. Apesar de suas orações e súplicas, Deus não o atendeu, e o apóstolo continuou a padecer desse mal (2Co 12.7-9). Alguns acham que se tratava da mesma enfermidade da qual Paulo padeceu quanto esteve entre os Gálatas: “a minha enfermidade na carne vos foi uma tentação, contudo, não me revelastes desprezo nem desgosto” (Gl 4.14). Alguns acham que era uma doença nos olhos, pois logo em seguida Paulo diz: “dou testemunho de que, se possível fora, teríeis arrancado os próprios olhos para mos dar” (Gl 4.15). Também podemos mencionar Epafrodito, que ficou gravemente doente quando visitou o apóstolo Paulo: “[Epafrodito] estava angustiado porque ouvistes que adoeceu. Com efeito, adoeceu mortalmente; Deus, porém, se compadeceu dele e não somente dele, mas também de mim, para que eu não tivesse tristeza sobre tristeza” (Fp 2.26-27).

Temos ainda o caso de Jó, que mesmo sendo justo, fiel e temente a Deus, foi afligido durante vários meses por uma enfermidade, que a Bíblia descreve como sendo infligida por Satanás com permissão de Deus: “Então, saiu Satanás da presença do Senhor e feriu a Jó de tumores malignos, desde a planta do pé até ao alto da cabeça. Jó, sentado em cinza, tomou um caco para com ele raspar-se” (Jó 2.7-8). O grande servo de Deus, Isaque, sofria da vista quando envelheceu, a ponto de não saber distinguir entre Jacó e Esaú: “Tendo-se envelhecido Isaque e já não podendo ver, porque os olhos se lhe enfraqueciam” (Gn 27.1). Esses e outros exemplos poderiam ser citados para mostrar que homens de Deus, fiéis e santos, foram vitimados por doenças e enfermidades.

2. O mesmo ocorre na História da Igreja. Nem mesmo cristãos de destaque na história da Igreja escaparam das doenças e dos males. João Calvino era um homem acometido com freqüência de várias enfermidades. Mesmo aqueles que passaram a vida toda defendendo a cura pela fé também sofreram com as doenças. Alguns dos mais famosos acabaram morrendo de doenças e enfermidades. Um deles foi Edward Irving, chamado o pai do movimento carismático. Pregador brilhante, Irving acreditava que Deus estava restaurando na terra os dons apostólicos, inclusive o da cura divina. Ainda jovem, contraiu uma doença fatal. Morreu doente, sozinho, frustrado e decepcionado com Deus.

Um outro caso conhecido é o de Adoniran Gordon, um dos principais líderes do movimento de cura pela fé do século passado. Gordon morreu de bronquite, apesar da sua fé e da fé de seus amigos. A. B. Simpson, outro líder do movimento da cura pela fé, morreu de paralisia e arteriosclerose. Mais recentemente, morreu John Wimber, vitimado por um câncer de garganta. Wimber foi o fundador da igreja Vineyard Fellowship (“A Comunhão da Vinha ou Videira”) e do movimento moderno de “sinais e prodígios”. Ele, à semelhança de Gordon e Simpson, acreditava que pela fé em Cristo, o crente jamais ficaria doente. Líderes do movimento de cura pela fé no Brasil também têm ficado doentes. Não poucos deles usam óculos, para corrigir defeitos na vista e até têm defeito físico nas mãos.

O meu ponto aqui é que cristãos verdadeiros, pessoas de fé, eventualmente adoeceram e morreram de enfermidades, conforme a Bíblia e a História claramente demonstram. O significado disso é múltiplo, desde o conceito de que as doenças nem sempre representam falta de fé até o fato de que Deus se reserva o direito soberano de curar quem ele quer.
(tempora-mores.blogspot.com/2008/11/crente-fica-doente.html)

A Crise para Leigos: Uma visão cristã do turbilhão financeiro de 2008 (1 de 3)

Como não sou profissional de investimentos de risco, incluo-me na categoria do leigo que tenta entender o furacão financeiro que veio, não tão inesperadamente assim, sobre todo o mundo. Sinais de alerta já existiam há vários meses. Os sismólogos econômicos chamaram atenção para o tsunami configurado no colapso do bolsão imobiliário dos Estados Unidos, há mais de um ano; e os trovadores do caos já cantavam odes de desespero, ecoando os prognósticos pessimistas dos financistas, mesmo antes das bolsas despencarem violentamente neste setembro negro e neste outubro vermelho.

Mas a realidade é que ninguém, mas ninguém mesmo, aquilatou o tamanho da crise financeira que tomou de assalto as manchetes e os noticiários dos últimos dias; crise que assaltou, literalmente, o bolso de milhões de investidores e que vai levando de roldão corporações imensas à falência. Ninguém fez qualquer previsão parecida com as conseqüências conjunturais, que poderão atingir pessoas, comuns, que nunca passaram perto de um mercado de ações; aquelas pessoas que quando ouvem alguém dizer, “a bolsa caiu”, olham ao lado procurando ajudar a mulher que a derrubou no chão.

É possível que todos nós sejamos atingidos, de uma maneira ou de outra, e não devemos nos enganar: essa crise de 2008 pode perturbar nossa vida com muito mais intensidade do que estamos imaginando agora. E não sabemos ainda o fim da história. Em 13 de outubro de 2008, após governos europeus se comprometerem a jogar mais de um trilhão de dólares nas instituições financeiras, houve uma ascensão momentânea nas bolsas e um tênue suspiro de otimismo; mas logo nos dias seguintes as quedas catastróficas vieram a se repetir. Tudo isso atesta a instabilidade inerente a todo o sistema. Instabilidade é, realmente, a palavra da vez e o comportamento dos mercados e das instituições parecendo uma “montanha russa”, ou a queda em um poço que não parece ter fundo, não resulta em nenhuma segurança às empresas e às pessoas.

Como entender o que está acontecendo? Será que isso tem algo, mesmo, a ver comigo? Será que eu não posso simplesmente fazer coro com a maioria: xingar os bancos, as financeiras e os banqueiros, ou os Estados Unidos – como culpados por toda essa desorganização, como fruto de sua ganância desvairada? Será que eu devo clamar por mais regulamentação governamental? Devo “vender” mais um pedaço de minha escassa liberdade ao estado, para que ele decida o que é melhor para minha vida? Será que a Bíblia e os ensinamentos divinos têm algo a dizer, ou a esclarecer sobre esta Crise; ou a me auxiliar no entendimento?

ENTENDENDO A CRISE
1. A Bolha Imobiliária: A essas alturas todos sabem que uma das grandes causas da crise foi o bolsão de negócios imobiliários realizados nos Estados Unidos nos últimos anos. Não estamos falando de grandes cadeias de shopping-centers sendo construídos por empreendedores que merecem cadeia, nem de milhares de prédios inteligentes, construídos por burros de alto-luxo. Mas sim de centenas de milhares de casas construídas e vendidas com um mínimo de critério de crédito (muitas vezes, sem critério), para ávidos compradores pulverizados em todo o território norte-americano. Créditos com a garantia do próprio imóvel, que entravam a preços inflados pelo próprio aquecimento do mercado, mas que nada garantem quando ninguém compra mais nada e os preços despencam.

2. O Abuso dos Créditos de Risco: Nesse ritmo, casas foram vendidas a compradores que, aliciados pelas facilidades e com os olhos vidrados no status, se comprometiam com valores significativamente acima da sua capacidade de pagamento. Pior que isso, pessoas que moravam em casas quase pagas, sendo bombardeadas diariamente e caindo na esparrela de refinanciarem seus imóveis, colocaram no bolso “cash” a ser gasto em Hummers, em relógios e roupas de griffe, em itens totalmente supérfluos às necessidades básicas da vida. Passavam, assim, a dever por suas residências quantia bem maior do que o valor real delas.

3. A alavancagem das instituições Financeiras: Os Bancos financiavam em ritmo crescente, comprometendo-se absurdamente acima do seu patrimônio. O Lehman Brothers, famoso banco que quebrou – suas ações despencaram 98% em valor de um dia para o outro, estava com o patrimônio comprometido – alavancado – em 35 para 1 (emprestou 35 dólares, para cada dólar do seu patrimônio). As carteiras de recebíveis desses empréstimos foram sendo vendidas de banco para banco, cada qual com seus ganhos, ágios e deságios – distanciando-se cada vez mais dos devedores originais. A criatividade dos bancos para aliciar e emprestar foi só superada pela irresponsabilidade e ganância dos tomadores de empréstimos – satisfeitos por acharem quem atendesse os seus anseios. Essa enorme carteira de dívidas de quem não pode pagar constituem o que é chamado de créditos “sub-primes”, e esses papéis corriam de mão em mão no mundo das finanças. Papéis pelos quais se pagavam somas substanciais, mas que no mundo real nada mais valiam. Uma pergunta que não quer calar: Por que bancos emprestam, ou negociam com quem não pode pagar? Resposta – porque essas negociações dão a impressão (e provocam registros) de crescimento do negócio! Os executivos de topo recebem polpudos bônus com o incremento dos negócios! Ganância passa a ser a motivação (e não a saúde financeira, ou perenidade da instituição). Quando a inadimplência começa a aumentar (nesses últimos meses, exponencialmente), o falso crescimento fica evidente, há um brusco retorno à realidade, instala-se a crise!

4. O excesso de dólares no mercado: Por mais atacado e combalido, o dólar continua sendo a moeda internacional. Acredito que um dos grandes incentivadores dos negócios arriscados dos bancos, foi a abundância de dólares nessas instituições, provenientes dos poucos, mas importantes, detentores do negócio de petróleo. Em 1973 o barril de petróleo custava de 6 dólares. Em poucos meses, passou a 14 dólares. O que aconteceu? Ficou mais caro de ser extraído? Foi feito um fundo de reserva para pesquisa e desenvolvimento de veículos ecologicamente corretos e mais eficientes? Não – apenas cartelizou-se o mercado com a fundação da OPEP – Organização dos países produtores de petróleo. Daí para frente, passando a dar as cartas, o mundo viu (e pagou) o preço do barril flutuando entre 15 e 25 dólares, atingindo um pico de 38, em 1981, retroagindo um pouco, mas voltando a ascender gradativamente em 2003. Em 2007 o barril estava a 60 dólares. Em 2008 – o mesmo barril, ou seja, com o mesmo conteúdo (e com os mesmos custos anteriores de produção) atingia 140 dólares! Inflação mundial? Não, exploração de quem detém um mercado cativo; pura e simples ganância! E para onde foi todo esse excesso de dólares, confiscados de cada proprietário de veículo ao redor do mundo? Para melhoria dos povos dos países produtores? Não! A miséria da Venezuela e o despotismo dos países Árabes estão aí de prova que não foi para “distribuição de renda”. Além de alimentar o egocentrismo e tirania de alguns e de ajudar a armar a Venezuela, esses dólares foram para os Bancos. Lá, eles têm que ser remunerados; têm que ser aplicados. Em que? Em qualquer coisa – dêem-me tomadores de dinheiro emprestado, quer eles precisem quer não, pois o dinheiro não pode ficar parado. Financiem-se construções; criem-se mercados; incentivem-se os devedores – a festa começou! Em 16 de outubro de 2008, no meio da corrente crise, depois do estouro da bolha, o barril chegou a 69,85 dólares – metade do preço de alguns meses atrás!

5. Ações acima do valor patrimonial das empresas – Capital fácil flui também para o mercado de ações. “Descola-se” o papel da realidade da empresa. Como o negócio é comprar e vender – e em um mercado de capital frouxo, mais comprar do que vender, os preços começam sua ascensão. Dinheiro é desviado de empresas, onde deveria estar financiando a capacidade produtiva, para especular com a bolsa e outras aplicações de risco. É mais fácil e mais rápido ganhar dinheiro lá, do que vendendo produtos, cuidando de problemas de qualidade, etc. A empresa passa a ser apenas mais uma levantadora de financiamentos, junto à rede bancária e às linhas oficiais de créditos subsidiados – geralmente destinados à exportação, recursos que foram redirecionados ao mercado especulativo. Quando a bolha estoura, as ações sofrem um choque de realidade, voltam inicialmente ao valor patrimonial – mas como não existem compradores, e todos querem vender, pois precisam de dinheiro, elas continuam baixando, sem limites mínimos. Assim, o dinheiro vira pó; as perdas não podem ser repostas; os financiamentos obtidos para especular permanecem pendentes, devendo ser pagos! O resultado são aqueles homenzinhos vestidos de laranja gritando ferozmente uns para os outros, berrando aos celulares, suando em frente aos computadores; olhando hipnotizados àquelas linhas de informações projetadas em telões, criptografadas aos demais mortais, mas que trazem notícias mortais a empresas e pessoas.

6. O estouro da boiada – Só na Espanha existem os loucos que adoram bois raivosos e sem controle chifrando o povo pelas ruas, mas no mundo da economia globalizada, o estouro da boiada é cruel e faz vitimas fatais. No clima de salve-se quem puder, some a confiança. Os Bancos retêm o capital que restou e não emprestam mais aos outros bancos, nem às empresas viciadas em financiamento fácil. Dobram-se as garantias. As empresas têm que produzir duas vezes mais, para gerar bens, que vão gerar papeis, que serão trocados, em financiamentos, por metade ou um terço do valor desses (o restante fica como garantia, pois ninguém sabe se os compradores vão pagar). O dinheiro some do mercado. Não há financiamento da produção e desaparecem os compradores. Resultado: corte de funcionários; inadimplência generalizada – espalha-se a crise a pessoas comuns que nem foram responsáveis por sua geração. O que os bancos, nesse estouro da boiada, estão fazendo com o dinheiro que sobrou? Comprando dólares – letras do tesouro norte-americano (tudo gira, gira e termina nos Estados Unidos). Esses papéis não rendem praticamente nada, mas têm garantia do governo norte-americano e sólida liquidez. Resultado: sobe o dólar; valoriza-se a moeda norte americana; tudo fica mais caro, no mundo.

A CRISE NO BRASIL
Nossas autoridades maiores, empenhadas na tarefa cansativa de providenciar pão e circo ao povo, tentaram cobrir o sol com uma peneira, indicando que mal sentiríamos o peso da crise, por aqui. Afinal, o tsunami chegaria a nossas praias apenas como uma leve “marolinha”. Pura mentira. A crise está conosco, já fazendo muitos estragos:

1. As diferenças: É verdade que nossos bancos não estavam diretamente atrelados àquelas carteiras podres de créditos imobiliários; além disso, o nível de exposição dos bancos brasileiros é drasticamente menor do que no exterior. Diferentemente de um Lehman Brothers (35 para 1) nossos bancos têm uma média de exposição de 4 para 1. Por último, nosso Banco Central tem compulsório para tudo (lastro em moeda que os bancos são obrigados a deixar com o governo para as operações que realizam) – por isso pagamos os juros mais altos do mundo – e isso faz com que haja uma fonte rápida de liquidez, se esses valores forem revertidos ao mercado, via rede bancária.

2. As similaridades e conseqüências comuns: Nesse mundo interligado, todos os bancos possuem operações internacionais e alguns têm no exterior as próprias matrizes. Todos, de uma forma ou de outra, financiam capital que vai para o mercado especulativo: quer no exterior; quer em aplicações cambiais; quer no mercado de ações. Assim, várias empresas – todas essas financiadas por bancos – constatam perdas irrecuperáveis e espetacularmente enormes, como têm sido o caso da Sadia (R$760 milhões), Aracruz (R$1,24 bilhão) e do Grupo Votorantim (R$2 bilhões). Com o mundo, lá fora, parado, nossas exportações desaparecem. A Balança comercial de setembro – que ainda não reflete praticamente nada da crise, já caiu mais de 30% comparando com o mesmo período no ano passado. Isso significa empresas diminuindo de tamanho ou fechando; desemprego; inadimplência; redução dos negócios em todas as áreas. O mercado de ações despenca, como no exterior, estando ele igualmente inflado com os papéis fora da realidade patrimonial de cada empresa. Muitos perdem 50, 60, 75% do dinheiro que aplicaram a apenas alguns meses atrás. Os grandes Bancos “sentam em cima do capital” – não movimentam, não emprestam. Os esforços do governo – em aumentar a circulação de valores na economia, liberando os depósitos compulsórios dos bancos, têm pouco efeito a curto e a médio prazo. Somem os financiamentos a longo prazo que possibilitavam ao brasileiro a compra de um carro novo e outros bens de consumo. Cai o preço dos imóveis, pois não há compradores, nem financiamento. Cai o valor patrimonial dos bancos – as ações de grandes bancos colocadas no mercado externo, como Itaú e Bradesco, caem mais de 20 bilhões (30%) em poucas semanas. Começa um processo de desconfiança na praça e, como no resto do mundo, ninguém sabe ainda o fim desse filme...

3. A alta do dólar: Esse foi o reflexo mais imediato e mais surrealista. Ficamos intrigados - "Mas a crise não foi gerada pelos Estados Unidos; não são eles que estão com problemas; como é que a moeda deles fica forte a nossa vai para o espaço"? Exatamente porque valores não estão sendo movimentados na economia global e as instituições financeiras procuram o abrigo no dólar e nas garantias do governo americano, ele sobe e se fortalece. Resultado interno, em nosso país: alta intensa, instabilidade, queima de reservas, possível manutenção em um patamar significativamente mais alto do que nos últimos meses. Resultado que sentiremos a curto prazo: aumento de todos os insumos e produtos importados. Prepare-se para gastar mais, quando for à Rua 25 de março!

A Crise para Leigos: Uma visão cristã do turbilhão financeiro de 2008 (2 de 3)

PODE A BÍBLIA NOS ENSINAR SOBRE ESSA CRISE FINANCEIRA?


1. A Atitude dos que não temem a Deus:
Em um filme famoso, exatamente sobre o mercado de capitais – “Wall Street” (1987, com Michael Douglas e Charlie Sheen) – o personagem de Douglas, Gekko, dá a seguinte instrução: “a ganância é uma coisa boa, é algo certo, e funciona” (“greed is good, greed is right, greed works”)! No dia 17 de outubro de 2008 – no auge da crise – o conhecido bilionário, investidor e também filântropo, Warren Buffet, em um artigo publicado no New York Times (http://www.cnbc.com/id/27231171/) escreveu o seguinte conselho: “Tenha medo quando os outros forem gananciosos e seja ganancioso quando os outros tiverem medo”.



Ambos conselhos são contrários à visão de mundo e vida ensinada por Deus. A questão da ganância está na raiz da crise financeira de 2008! Temos aqui um exemplo vivo da postura de inversão de valores e de arrogância, condenada por Isaías (5.20 e 21): “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridão luz e da luz, escuridão; põem o amargo por doce e o doce, por amargo! Ai dos que são sábios aos seus próprios olhos e prudentes em seu próprio conceito”!

2. A forma de vida que agrada a Deus:
A Bíblia tem vários trechos relevantes ao nosso entendimento da situação; muitos que alertam contra a ganância e a cobiça. Um desses principais trechos pertinentes é 1 Timóteo 6.6-11. Nele o experiente e consagrado apóstolo Paulo, escrevendo ao jovem Timóteo, está ensinando pelo menos seis coisas;

(1) Qual o Lucro REAL? O que é que realmente conta em nossas vidas? (v. 6 – “De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento”): é a devoção a Deus (piedade); é o contentamento nas coisas de Deus. Quando colocamos as questões materiais como prioritárias em nossas vidas, estamos desviando o foco da nossa existência, a razão do nosso ser. Estamos no caminho da decepção, da amargura, da tristeza, pois a nossa confiança estará em coisas que não têm lastro real. Deus é alicerce seguro, em qualquer situação.

(2) Somos peregrinos nessa Terra (v. 7 – “Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele”): é verdade que Deus nos concede bênçãos materiais, mas nada levamos deste mundo. Quando temos essa percepção, nos tornamos menos apegados às coisas materiais; compreendemos a razão do lucro real que ele vem falando.

(3) Devemos viver com frugalidade (v. 8 – “Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes”): Desejemos as coisas básicas da vida e não seremos frustrados em nossas expectativas; essas nos são prometidas por Deus, como fruto de seu amor e benevolência (Mateus 6.28-32), pois ele sabe que precisamos delas. Mas as coisas do chamado “mercado de luxo”, são, realmente, necessárias? Onde está a base de nossa alegria? Nas coisas materiais, nos ganhos financeiros para comprarmos mais coisas?

(4) A cobiça é um pecado muito perigoso (v. 9 – “Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição”): O desejo da riqueza leva a tentações; essas tentações são ciladas, armadilhas, aprisionam e tiram a liberdade. A cobiça é campo gerador de novos desejos insanos (concupiscências insensatas), que são maus em si mesmos (perniciosos); tudo isso, termina por afogar as pessoas na ruína e na perdição.

(5) Cuidado com o amor do dinheiro (v. 10 – “Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores”): Esse amor é raiz de todos os males. Note que a raiz não é o dinheiro em si – um meio de interação social e transação de ativos, mas o amor, o apego ao dinheiro. A cobiça leva ao desvio da fé, pois a confiança passa a ser exercitada no dinheiro, no poder, em vez de em Deus. O resultado dessa inversão, desse apego, é muito sofrimento e tormento para aqueles que caem nessa armadilha.

(6) Devemos, portanto, fugir de tudo isso (v. 11 – “Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas; antes, segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão”): Nosso dever é seguir a justiça, as coisas certas, apropriadas. Isso implica na existência de padrões, de absolutos, da distinção entre verdade e mentira. Ele repete que devemos seguir, em adição, a devoção a Deus (piedade). O outro alvo é a fé (a confiança em Deus, somente), seguido do amor e da constância. O servo de Deus firma-se na constância e estabilidade de Deus, portanto, não deve oscilar entre duas posições. Não deve se sobressaltar com as circunstâncias; não deve assustar aos seus. Por último, temos a mansidão como alvo. Não devemos nos exasperar, ou nos irritar com as circunstâncias. Em Deus encontramos a fonte de nossa mansidão.

3. Outros alertas contra cobiça:
Existem muitos outros trechos que alertam contra a cobiça, contra a avareza, contra o apego ao dinheiro. Todos esses são pertinentes alertas aos dias que atravessamos, por exemplo:
Colossenses 3.5 Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria.
Lucas 12.15 Então, lhes recomendou: Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui.
Salmo 10.3 Pois o perverso se gloria da cobiça de sua alma, o avarento maldiz o SENHOR e blasfema contra ele.

4. Outros ensinamentos, na Bíblia, sobre questões econômicas:
Mas é verdade, também, que o ensino da Bíblia nas questões econômicas é muito mais amplo do que isso. Numa era onde temos a propensão a concentrar os nossos olhos nos que nos cercam, em vez de em nossas atitudes, temos, por exemplo, um alerta contra inveja da prosperidade alheia, indicando que essa atitude nos leva perto da queda:
Salmo 73.2-3 Quanto a mim, porém, quase me resvalaram os pés; pouco faltou para que se desviassem os meus passos. 3 Pois eu invejava os arrogantes, ao ver a prosperidade dos perversos.

Temos a reafirmação do direito de propriedade, e o oitavo mandamento, “não furtarás” (Êxodo 20.15) é o fundamento disso. Temos até indicação de que o ato de investir e multiplicar o capital não é errado em si, em duas parábolas relatadas em Mateus 25.14-30 e Lucas 19.11-27 (sabemos que o propósito das parábolas era o de ensinar que Deus nos colocou nesse mundo de incertezas para fazer a obra dele, do Seu Reino, mas ele ensina isso mostrando a propriedade da interação com as atividades financeiras e comerciais do dia-a-dia). Nessas parábolas é mencionada até a propriedade de colocar o dinheiro na mão de bancos e de banqueiros (Mateus 25.27 e Lucas 19.23: “cumpria, portanto, que entregasses o meu dinheiro aos banqueiros, e eu, ao voltar, receberia com juros o que é meu”; e “por que não pusestes o meu dinheiro no banco? E então, na minha vinda, o receberia com juros”). Entretanto, é interessante observar, que colocar no banco era o pior tipo de investimento – o melhor era fazer o capital trabalhar produtivamente.

A verdade é que Deus construiu, igualmente, alguns princípios inexoráveis de causa e efeito, entrelaçando a moralidade e ética com economia. Quando esses princípios são quebrados, o pedágio é cobrado com intensidade avassaladora. Em Deuteronômio 28.15 lemos: “Será, porém, que, se não deres ouvidos à voz do SENHOR, teu Deus, não cuidando em cumprir todos os seus mandamentos e os seus estatutos que, hoje, te ordeno, então, virão todas estas maldições sobre ti e te alcançarão”. E, mais adiante, vejam as conseqüências (28.43-44): “O estrangeiro que está no meio de ti se elevará mais e mais, e tu mais e mais descerás. 44 Ele te emprestará a ti, porém tu não lhe emprestarás a ele; ele será por cabeça, e tu serás por cauda”. Adam Smith em seu tratado “A Riqueza das Nações (1776), ao falar da “mão invisível do mercado”, que pune os excessos e quebra os gananciosos – como estamos testemunhando no presente – reflete exatamente que existem princípios éticos e lógicos na esfera da economia. Esse é também o ensino de Deus.

5. O ponto no qual devemos nos concentrar:
Mas esta é questão principal, nessa crise e nessa área: É suficiente apontar a crise como resultado da cobiça e da especulação dos outros? É correto atribuir essa situação, assepticamente à estrutura econômica do mundo ocidental, na ilusão de que um outro sistema econômico a impediria? Será que não podemos, apenas, segregar e atribuir a culpa à suposta maldade inerente ao sistema financeiro, ou aos bancos e banqueiros?

Estaremos errando o alvo se não nos convencermos que o problema está inerentemente no ser humano. A cobiça está no coração da natureza humana e devemos pedir a Deus que nos livre dela. A cobiça e a ganância são, certamente a raiz da crise que atravessamos, mas visualizemos ela nas pessoas, e não nos desviemos pensando que são as estruturas impessoais que as abrigam. Pessoas que emulam o Gekko, ou que seguem os conselhos de Buffet.

A cobiça aparece em toda a sua forma monstruosa quando essas pessoas procuram ganhos irreais, à custa de outras; que se abrigam e se fortalecem com seus ganhos ilegítimos. Devemos, portanto, “fugir dessas coisas”, como Paulo alerta a Timóteo, seguir “a justiça,a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão”.

No próximo post, a conclusão do assunto.

A Crise para Leigos: Uma visão cristã do turbilhão financeiro de 2008 (3/3)

Após uma semana caótica e ultra-ocupada, estamos postando a terceira e última parte dessa abordagem cristã à Crise Financeira de 2008.


Diante do cenário e das questões que foram expostas nos dois últimos posts, concluímos:

1. Mais controle governamental, ou volta às responsabilidades básicas do governo?
Vivemos em um mundo caído em pecado. A ganância, a cobiça, o amor ao dinheiro sempre se constituirão em fortes tentações. Sempre darão oportunidade dos ricos e poderosos oprimirem os mais fracos. Por isso, em paralelo às garantias de liberdade e de livre iniciativa, o governo deve também proteger os cidadãos comuns da injustiça e da desonestidade. Nisso, nada mais fará do que voltar às suas responsabilidades básicas, recebidas de Deus. Mas isso não significa uma carta branca ao intervencionismo de toda sorte. Não representa uma ressurreição do socialismo moribundo.

2. A esfera econômica também pode ser palco de violência e de injustiça.
Por princípio, e por acreditar que esse é o projeto encontrado na Bíblia, sou avesso à grande maioria dos controles governamentais que se aceitam com naturalidade nos dias atuais. O propósito do Governo é dar garantia à segurança dos cidadãos para que eles possam desenvolver, em condições de igualdade e justiça, suas desigualdades e seus potenciais com o máximo de respeito ao próximo e em obediência à autoridade que os garante (Romanos 13.1-7). Mas essa tarefa requer, por vezes, a colocação de controles na sociedade – e na esfera econômica, exatamente para proteger os inocentes. Por exemplo, nenhum defensor de um papel reduzido ao governo, deveria ser contra a existência de sinais de trânsito. Mas isso não é extrapolar as funções do governo? Não! Ao ordenar o tráfego, ele protege as pessoas umas das outras; deve ter condições de punir os avançadores de sinais e de reconhecer os que os respeitam.

3. Proteção aos inocentes e a punição dos maus.
Assim, no mercado financeiro, algumas diretrizes que limitem a exposição indevida aos créditos de risco, estarão alinhadas exatamente com a proteção dos inocentes. Por outro lado, o resgate dos maus, com os bons pagando a conta, é uma inversão de valores e não pode se entrar nessa situação apressadamente, a não ser que uma profunda análise revele a medida necessária para a proteção dos que praticam o bem. Cabe ainda, ao governo, prevenir o crime, identificar e punir os malfeitores. Os governantes, como ministros de Deus, devem valorizar (e não sufocar em impostos) aqueles que “trabalhando sossegadamente” procuram ganhar o seu pão (2 Tessalonicenses 3.12). Em paralelo não podem deixar impunes aqueles que se aproveitam de situações, ou do poder que detêm, para enriquecimento pessoal ilícito, muitas vezes sugando dos que pouco têm.

4. O anseio por estabilidade.
No início desses ensaios, dissemos que instabilidade era a palavra da vez (com todas as suas derivativas: volatilidade, desconfiança, falta de credibilidade, insegurança, etc.). Nesse sentido, todo esse turbilhão financeiro vem demonstrar a bênção que é a estabilidade, tão rapidamente abalada. No Brasil, chegamos a quase nos acostumar com uma forma de vida mais economicamente estável, em função da solidez da moeda e de uma situação econômica favorável ao crescimento, experimentada nos últimos anos. É verdade que o aperto financeiro em nosso bolso nunca foi aliviado, mas passamos a planejar com mais tranqüilidade e, ingenuamente, passamos a achar que a estabilidade era permanente. Chegamos a arquivar os pacotes econômicos, como coisas do passado. É fácil enganarmo-nos a nós mesmos, mas uma simples olhada na história demonstrará como instabilidade é a norma nesse mundo. A capa da revista TIME, ao lado, não diz respeito a esta crise, mas à de 1987 - quase tão grave quanto a atual. Nossa memória é curta.

5. O choque de instabilidade.
Na atual conjuntura, já é possível antever: desaquecimento do mercado, menos vendas, contenção de despesas nas empresas, recessão, desemprego, incerteza em nosso dia-a-dia, instabilidade. De uma certa forma, nos sentimos espoliados em uma conquista que julgávamos alcançada. Com freqüência as pessoas se consideram aventureiras e corajosas, mas por que será que a estabilidade é algo tão almejado e perseguido? Por que as pessoas anseiam por uma repetibilidade das circunstâncias, pela condição de poderem planejar?

6. Estabilidade é característica divina.
Estabilidade é uma característica divina, por isso ela é uma bênção. Deus é estável. O pecado é fator de instabilidade. Deus é previsível. Satanás é enganador e astuto. A criação geme, sob o domínio do pecado. Deus instala a ordem no meio do caos. A mensagem de Deus é construtiva, no meio da turbulência. O plano de salvação é seqüencial, lógico e progressivo. Da morte espiritual, pela justificação procedente de Jesus Cristo, passamos à vida e, em santificação, aguardamos a glorificação e comunhão eterna com o Pai. A Palavra de Deus ensina estabilidade de vida, a estabilidade da família, a estabilidade da sua Igreja. Estabilidade podemos esperar de Deus, e só dele: o mais está fadado à desilusão.

7. Vivendo estavelmente em um mundo instável.
Deus prepara os seus servos para viverem estavelmente em um mundo instável. Jesus intercedeu não para que fôssemos tirados do mundo, mesmo com suas instabilidades e perigos, mas para que pudéssemos ser livres do mal. Na realidade, somos comissionados com a mensagem da estabilidade do evangelho, como embaixadores de um país celestial, no qual não existem pacotes, e os tesouros não são corrompidos pela inflação, especulação ou mal-versação; onde não existem crises, nem turbilhão financeiro. Serenidade e confiança em Deus é o remédio para os sobressaltos desta vida. A estabilidade que o mundo e os governantes nos oferecem, é passageira, é enganosa, é traiçoeira. A paz que recebemos de Jesus, difere da obtida do mundo: ela tem o efeito de serenar os nossos corações.

8. Enfrentando quaisquer crises.
Como enfrentar esta e outras crises? Com a paz de Deus em nossos corações, com a confiança de que ele reina e está em controle de tudo e de todos, com a certeza de que a vitória final é dele e de seus servos. O que pedir a Deus, para os anos à frente? Devemos estar orando para que ele possa atuar em nosso país, derramando a sua graça comum, para que a estabilidade, tão característica de sua pessoa, seja parte de nossa experiência e peregrinação, por onde ele nos guiar. Nessa crise, acima de tudo, além de contabilizarmos as perdas (agora, ou no futuro) façamos um balanço da nossa alma, dos nossos objetivos e de nossas motivações. Aprendamos com as circunstâncias, pois o Deus da providência nos ensina através das situações em que ele nos coloca.

"Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas diante de Deus as vossas petições pela oração e pela súplica, com ações de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus". Filipenses 4.6,7

Solano Portela(http://tempora-mores.blogspot.com/)

Biografia de Barack Obama


O 44º Presidente dos Estados Unidos da América



Barack Hussein Obama nasceu no Havaí em 04 de agosto de 1961.Seu pai, Barack Obama Sr., nasceu e se criou em um pequeno vilarejo no Quênia, onde cresceu cuidando de cabras ao lado do próprio pai, que era um empregado doméstico de ingleses.

Ann Dunhham, a mãe de Barack, cresceu em uma pequena cidade do Kansas. O pai de Ann trabalhou com equipamentos de petróleo durante a Depressão, e depois se alistou para a II Guerra Mundial depois de Pearl Harbor, quando ele cruzou a Europa no exército do General Patton. Sua mãe foi trabalhar em uma linha de montagem de bombas, e depois da guerra, eles estudaram no G. I. Bill, compraram uma casa através de um programa imobiliário federal , e se mudaram para o Havaí.

Foi ali, na Universidade do Havaí, que os pais de Barack se conheceram. Sua mãe estudava lá, e seu pai tinha ganhado uma bolsa de estudos que lhe permitia deixar o Quênia e correr atrás de seus sonhos na América. O Pai de Barack posteriormente retornou ao Quênia, e Barack cresceu com a mãe no Havaí, e depois viveu por poucos anos na Indonésia. Mais tarde, ele se mudou para Nova York, onde se graduou na Columbia University em 1983.

Relembrando os valores da empatia e serviço que sua mãe lhe ensinou, Barack foi morar em Chicago em 1985, onde se tornou um agente comunitário de um grupo baseado em uma igreja que procurava melhorar as condições de vida da vizinhança afligida pelo crime e alto desemprego.

O grupo teve algum sucesso, mas Barack observou que se ele quisesse verdadeiramente melhorar a vida das pessoas daquela comunidade e de outras comunidades, não deveria conseguir apenas uma mudança de padrões locais, mas através de uma mudança nas leis e na política.

Barack Obama concluiu o curso de advocacia em Harvard em 1991, onde se tornou o primeiro presidente afro-americano da Revista de Direito de Harvard. Pouco Depois, ele retornou para Chicago para praticar como advogado de causas civis, e ensinar direito Constitucional, onde prestou serviços pro oito anos. Em 2004, ele se tornou o terceiro afro-americano desde a Reconstrução, a ser eleito Senador dos Estados Unidos.

As experiências políticas da vida de Barack Obama têm sido ricas e variadas – crescer em diferentes lugares, conviver com pessoas que tinham idéias diferentes, animaram sua jornada política. Entre o partidarismo e a briga do debate público de hoje, ele ainda acredita na capacidade de unir as pessoas em trono de um objetivo político - uma política que busque a solução dos desafios de americanos diários à frente dos planos partidários e ganhos político.

No Senado do Estado de Illinois, significou trabalhar com ambos Democratas e Republicanos para ajudar famílias de trabalhadores a terem êxito criando programas como o Crédito do Imposto de Renda sobre ganho estatal, que em três anos forneceu mais de 100 milhões de dólares em cortes fiscais para famílias através do estado.

Ele também levou a cabo uma expansão da educação de pré-infância, e depois que certo número de prisioneiros na fila da morte foram achados inocentes, o Senador Obama trabalhou junto com funcionários de execução legais para requerer gravações em vídeo de interrogações e confissões em todos os casos de pena capital.

No Senado de Estados Unidos, ele se concentrou em atacar os desafios do século 21 em um mundo globalizado, com uma nova maneira de pensar e ações políticas que não mais se baseie em m denominador comum muito baixo. Sua primeira lei aprovada com o Republicano Tom Coburn, foi uma medida para re-estabelecer a confiança no governo permitindo que cada americano possa ver online como e onde é gasto cada centavo dos impostos que pagam. Ele também foi a voz principal em patrocinar uma reforma de ética que extirparia a corrupção à moda “Jack Abramoff” no Congresso.

Como membro do Comitê de Assuntos de Veteranos, o Senador Obama lutou para ajudar os veteranos de Illinois a conseguir o pagamento da pensão por invalidez que a eles foi prometida. Está trabalhando para preparar o “VA” para o regresso de milhares de veteranos que precisarão de cuidados depois da volta do Iraque e o Afeganistão.

Reconhecendo a ameaça terrorista imposta por armas da destruição de massa, ele viajou à Rússia com o Republicano Dick Lugar para iniciar uma nova geração de esforços de não-proliferação despendidos para encontrar e tornar seguras as armas mortais ao redor do mundo. E sabendo da ameaça que enfrentamos a nossa economia e nossa segurança da dependência da América ao óleo, Obama está trabalhando para trazer montadoras de carros, sindicatos, agricultores, negociantes e políticos de ambos os partidos juntos para promover um maior uso de combustíveis alternativos e padrões mais altos de combustível em nossos carros.

Se é a pobreza exposta pelo Katrina, o genocídio no Darfur, ou o papel da fé na política, Barack Obama continua falando alto sobre as questões que definirão a América no século 21. Mas acima de todas suas realizações e experiências, ele é muito orgulhoso e agradecido pela sua família. Sua esposa, Michelle, e suas duas filhas, Malia, 9, e Sasha, 6, vivem no Zona do Sul de Chicago.


Fonte: Barack Obama site

Tradução de Joao cruzue
SP-04.11.2008-23.01h



cruzue@gmail.com

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Vídeo em Homenagem aos Reformadores

Zuínglio,Lutero, Calvino, Farel, Knox e Outros

IDENTIDADE REFORMADA E CONFESSIONALIDADE

Alderi Souza de Matos


Introdução
Uma das características originais da tradição reformada foi a sua confessionalidade. Nos séculos 16 e 17, os reformados, mais do que outras tradições protestantes, preocuparam-se em expressar formalmente as suas convicções doutrinárias por meio de declarações escritas. Essas declarações foram de dois tipos: confissões de fé e catecismos. As confissões de fé são documentos dirigidos tanto a um público interno quanto externo e consistem em uma exposição sistemática dos principais pontos da fé reformada. Já os catecismos são dirigidos principalmente aos fiéis, especialmente as crianças e os jovens, e geralmente têm a forma de perguntas e respostas.


Ao lado do pensamento dos reformadores suíços, essas declarações de fé constituem uma das principais fontes da teologia reformada. Elas são notáveis pelo seu número e variedade: a comunidade reformada formulou pelo menos cinqüenta confissões de alguma importância nos primeiros 150 anos. Algumas foram redigidas por indivíduos e outras por grupos; algumas são muito simples, outras altamente elaboradas. Seus tópicos são os temas clássicos da teologia reformada: Deus e o seu senhorio, a autoridade das Escrituras, o pecado e a salvação, a eleição, os sacramentos, a vida cristã (ética), etc. Muitos desses documentos abordam passagens clássicas da Escritura e da tradição cristã, tais como os Dez Mandamentos, a Oração do Senhor e o Credo dos Apóstolos (os reformados também aceitam os credos, as declarações de fé da igreja antiga).


1. Objetivos das declarações confessionais
a) Declaratório: dar testemunho aos outros acerca da fé pessoal e coletiva (1 Pe 3.15).

b) Apologético: mostrar às autoridades e a outros grupos religiosos que a fé reformada estava em harmonia com as Escrituras.

c) Didático: ensinar aos fiéis (inclusive crianças, jovens e novos convertidos) as verdades centrais da fé bíblica.

d) Litúrgico: confessar e proclamar a fé no culto público (inclui um propósito homilético); preparar os que irão participar da Ceia do Senhor.


2. Principais declarações confessionais reformadas


2.1. Confissões de fé

Sessenta e Sete Artigos (1523): apresentados por Zuínglio no primeiro debate teológico realizado em Zurique. Parágrafo introdutório: “Eu, Ulrico Zuínglio, confesso que tenho pregado na nobre cidade de Zurique estes sessenta e sete artigos ou opiniões, com base na Escritura, que é chamada theopneustos (isto é, inspirada por Deus). Eu me proponho a defender e vindicar esses artigos com a Escritura. Porém, se eu não tiver entendido corretamente a Escritura, estou pronto a ser corrigido, mas somente com base na mesma Escritura”.

Confissão de Genebra (1536): apresentada por João Calvino e Guilherme Farel às autoridades de Genebra em 10 de novembro de 1536. Distingue-se de documentos suíços anteriores, como os Sessenta e Sete Artigos, por sua argumentação mais cuidadosa e perspectiva teológica mais consistente. Caracteriza-se por sua concisão e senso de autoridade. Aborda 21 tópicos, começando com a afirmação de convicções teológicas e concluindo com temas em disputa com os católicos.

Confissão da Guanabara (1558): escrita por quatro huguenotes que faziam parte da França Antártica, uma colônia francesa fundada por Nicolau Durand de Villegaignon na baía da Guanabara; com base nessa declaração de fé, Villegaignon os condenou à morte, executando três deles. A confissão compõe-se de 17 parágrafos que tratam dos seguintes temas: as pessoas da Trindade, os sacramentos da Ceia e do batismo, o livre arbítrio, a autoridade dos sacerdotes, casamento e celibato, a intercessão dos santos e orações pelos mortos. Parágrafo inicial: “Segundo a doutrina de São Pedro Apóstolo, em sua primeira epístola, todos os cristãos devem estar sempre prontos para dar a razão da esperança que neles há, e isso com toda doçura e benignidade. Nós, abaixo assinados, senhor de Villegaignon, unanimemente (segundo a medida de graça que o Senhor nos há concedido), damos razão a cada ponto, segundo nos haveis apontado e ordenado”.

Confissão Galicana (1559): adotada pela Igreja Reformada de França por ocasião do seu primeiro sínodo nacional, realizado nas proximidades de Paris. O autor principal do texto foi o reformador Calvino. Também é conhecida como Confissão de La Rochelle e contém 40 parágrafos.

Confissão Escocesa (1560): produzida em quatro dias a pedido do Parlamento Escocês como parte da reforma da igreja; foi escrita por uma comissão de seis membros, entre os quais o reformador João Knox (1505-1572).

Confissão Belga (1561): escrita por Guido de Brès “para os fiéis que estão dispersos por toda parte nos Países Baixos”; foi adotada por um sínodo reunido em Antuérpia em 1566 e, com algumas modificações, tornou-se um documento oficial do protestantismo reformado holandês, junto com o Catecismo de Heidelberg e os Cânones de Dort. Possui 37 seções ou artigos.

Segunda Confissão Helvética (1566): escrita por Johann Heinrich Bullinger a pedido de Frederico III, príncipe eleitor do Palatinado (Alemanha). Em um tom moderado, apresenta o calvinismo como o cristianismo evangélico que está em harmonia com os ensinos da igreja antiga. É um longo e elaborado documento com 30 capítulos. Foi aceita oficialmente na Suíça, Alemanha, França, Escócia, Hungria e Polônia, e bem recebida na Holanda e na Inglaterra.

Cânones do Sínodo de Dort (1619): o Sínodo de Dort ou Dordrecht, na Holanda, foi convocado pelo governo para resolver a controvérsia arminiana, tendo a participação de teólogos reformados de diversos países. Seus cânones constituem os chamados “Cinco Pontos do Calvinismo”, sintetizados com as seguintes expressões: Depravação Total, Eleição Incondicional, Expiação Limitada, Graça Irresistível (Vocação Eficaz) e Perseverança dos Santos. É um dos documentos doutrinários oficiais das igrejas reformadas da Holanda.

Confissão de Fé de Westminster (1646): redigida por mais de 120 teólogos calvinistas (ingleses e escoceses), reunidos na Assembléia de Westminster, em Londres, mediante convocação do Parlamento. A Confissão de Fé compõe-se de 33 capítulos cujos temas podem ser classificados da seguinte maneira: a Escritura Sagrada (Cap. 1), o Ser de Deus e suas obras (2-5), o pecado e a salvação (6-8), a aplicação da obra da salvação (9-15), a vida cristã (16-21), o cristão na sociedade (22-24), a igreja e os sacramentos (25-29), a disciplina eclesiástica e os concílios (30-31), as últimas coisas (32-33). Entre os temas especificamente reformados estão os decretos de Deus, o pacto (das obras e da graça), o conceito de livre arbítrio, a vocação eficaz, a perseverança dos santos, a lei de Deus e os sínodos e concílios.


2.2. Catecismos

Instrução na Fé (1537): escrita por Calvino pouco depois de se radicar em Genebra, contém uma apresentação clara e serena dos pontos essenciais do seu pensamento inicial. Possui 33 seções que abordam os mais diferentes tópicos. Primeiro parágrafo: “Visto que não há nenhum homem, por mais bárbaro e selvagem que possa ser, que não seja tocado por alguma idéia de religião, está claro que todos nós fomos criados a fim de que possamos conhecer a majestade do nosso Criador, para que, tendo-a conhecido, possamos estimá-la acima de tudo e honrá-la com toda admiração, amor e reverência”.

Catecismo de Genebra (1542): um longo documento escrito por Calvino a pedido de várias pessoas, no início da sua segunda estadia em Genebra, como um aperfeiçoamento do catecismo de 1537. Ao mesmo tempo preparou-se um calendário indicando como suas 373 perguntas e respostas podiam ser aprendidas e recitadas num período de 55 semanas. Foi adotado pela Igreja Reformada da França e pela Igreja da Escócia.

Catecismo de Heidelberg (1563): principal documento da Igreja Reformada Alemã. Foi escrito por dois teólogos, Zacarias Ursinus e Gaspar Olevianus, a pedido do príncipe Frederico III, do Palatinado. É um documento conciliador, combinando o calvinismo com um luteranismo moderado. É considerado um dos documentos reformados mais calorosos e pessoais, sendo adotado por muitas igrejas reformadas. Suas 129 perguntas e respostas classificam-se em três partes: 1) Nosso pecado e culpa, 2) Nossa redenção e liberdade, 3) Nossa gratidão e obediência. Sua primeira pergunta e resposta dizem: “Qual é o teu único consolo, na vida e na morte? É que, de corpo e alma, tanto nesta vida como na morte, eu pertenço não a mim mesmo, mas a Jesus Cristo, meu fiel Salvador, o qual pelo seu precioso sangue resgatou-me inteiramente de meus pecados e me livrou de todo o poder do Diabo. Ele cuida de mim tão bem que nem mesmo um cabelo de minha cabeça pode cair sem a vontade de meu Pai celeste e todas as coisas devem contribuir para a minha salvação. É por isso que ele me dá, pelo seu Espírito Santo, a certeza da vida eterna e me ensina a viver de ora em diante para ele, amando-o de todo o meu coração”.

Catecismos de Westminster (1647): o Catecismo Maior compõe-se de 196 perguntas e respostas e se divide em três partes: 1) A finalidade do homem, a existência de Deus e as Escrituras Sagradas (perguntas 1-5); 2) O que o ser humano deve crer sobre Deus (6-90); 3) Quais são os nossos deveres (91-196). Algumas seções especiais são: Cristo, o Mediador (36-56), os Dez Mandamentos (98-148) e a Oração do Senhor (186-196). O Breve Catecismo tem 107 perguntas e respostas. A parte central trata da lei de Deus e dos Dez Mandamentos (perguntas 39-83).

terça-feira, 21 de outubro de 2008

A REFORMA PROTESTANTE: PERGUNTAS E RESPOSTAS

Alderi Souza de Matos


1. Qual a importância da Reforma?


A Reforma Protestante foi importante para o cristianismo porque chamou a atenção para verdades (doutrinas) e práticas bíblicas que haviam sido esquecidas ou distorcidas pela Igreja Medieval. Não foi um movimento inovador, mas restaurador das convicções e ênfases do cristianismo original. Algumas de suas principais contribuições foram: retorno às Escrituras; a centralidade de Cristo; a salvação vista como dádiva da graça de Deus, a ser recebida por meio da fé; a Igreja não é a instituição ou a hierarquia, mas o povo de Deus – cada cristão é um sacerdote.


2. A Reforma foi um movimento exclusivamente religioso?


Embora tenha sido um movimento predominantemente religioso, a Reforma teve importantes ligações com as realidades econômicas, políticas e sociais do século 16. Na área econômica, contribuíram para a Reforma fenômenos como o fim do feudalismo, o desenvolvimento do capitalismo e a crescente urbanização. Ao contrário da mentalidade católica medieval, os protestantes tinham uma visão positiva do trabalho, do lucro e das ocupações “seculares”. Suas concepções acerca da pobreza também eram diferentes. Por outro lado, a Reforma foi um protesto contra a opulência da Igreja Majoritária e suas contínuas interferências na economia das nações européias (através de inúmeros impostos eclesiásticos e outros meios).


3. Qual a posição de Lutero quanto ao livre arbítrio?


Lutero negou o livre arbítrio no que diz respeito à salvação – o ser humano, escravizado pelo pecado, não pode por si mesmo buscar a Deus. Todavia, o livre arbítrio permanece intacto em relação a outras questões, como as decisões comuns e as responsabilidades da vida cotidiana.


4. Por que existem tantas igrejas protestantes?


Lutero defendeu firmemente a sacerdócio universal dos fiéis, mas essa não é a principal razão da existência de muitas igrejas evangélicas. A razão maior está no princípio do “livre exame”, ou seja, o direito de todo cristão de estudar por si mesmo as Escrituras, não ficando preso à autoridade da Igreja ou a uma interpretação “oficial” da Bíblia.


5. Há necessidade de uma nova Reforma?


Existem muitas igrejas ditas “protestantes” ou “evangélicas” que, por terem se afastado dos princípios básicos propostos pelos reformadores, realmente necessitam de uma nova Reforma.


6. Como a Reforma contribuiu para o pensamento moderno?


A Reforma contribuiu para o pensamento moderno de muitas maneiras. Seu questionamento do autoritarismo religioso medieval, sua ênfase à participação responsável dos fiéis na vida e na direção das igrejas, seu estilo participativo de liderança, sua valorização do trabalho e de toda e qualquer ocupação honesta contribuíram para o fortalecimento de noções como liberdade, democracia e solidariedade social. Os diferentes reformadores e seus seguidores deram importantes contribuições nas áreas da teologia, filosofia, política, sociologia e ética.


7. Que dizer da imagem negativa de Lutero?


Felizmente, essa imagem negativa de Lutero está em declínio. Atualmente, mesmo historiadores católicos têm tido uma visão mais construtiva e equilibrada do pensamento e da obra do reformador.


8. É correta a interpretação de Marx e Engels de que a Reforma foi motivada por fatores sociais e econômicos?


Essa visão de Marx e Engels é parcial e inadequada. Lutero foi movido acima de tudo por sua intensa experiência religiosa. Ele havia se tornado um monge por preocupar-se com a sua salvação; porém, a sua vida monástica só fez aumentar a sua insegurança espiritual. Foi então que descobriu nas epístolas paulinas o ensino acerca da justificação pela fé. Essa experiência libertadora, que trouxe paz ao seu coração, e as convicções dela resultantes, foram o fundamento da sua obra como reformador.


9. Lutero era aliado das elites?


Lutero era inteiramente popular, como demonstram fartamente os seus escritos. Ele era um homem do povo, falava a linguagem do povo, por vezes bastante áspera, e só ocasionalmente envolveu-se com os nobres, por força das circunstâncias políticas da época.


10. É verdade que o reformador Lutero gostava de uma boa cerveja?


Lutero realmente gostava de comer e beber, por entender que essas eram dádivas de Deus aos seus filhos.


11. Por que a Reforma teve diferentes manifestações?


A Reforma teve características distintas em outras partes da Europa por vários motivos: as personalidades e ênfases dos outros reformadores, as peculiaridades culturais das outras nações e as realidades políticas dessas nações. Por exemplo, na Inglaterra a Reforma só implantou-se graças à interferência decisiva de vários monarcas, como Henrique VIII, Eduardo VI e, em especial, Elizabete I. Querendo agradar os seus súditos protestantes e católicos, ela criou o anglicanismo, uma síntese de elementos dessas duas tradições religiosas.

HERDEIROS DA MESMA GRAÇA DE VIDA: A FAMÍLIA NA EXPERIÊNCIA DOS REFORMADORES

Alderi Souza de Matos


Introdução


Além da igreja, outras esferas que a Reforma Protestante afetou profundamente foram o casamento e a família. Durante a Idade Média, e mesmo antes, a vida celibatária tinha sido considerada a condição ideal para o cristão, o estado espiritual mais elevado. O grande erudito Jerônimo, que morreu no ano 420, foi particularmente enfático nesse sentido. Ao comparar a virgindade, a viuvez e o casamento, ele deu à primeira o valor numérico de 100, à segunda 60 e ao casamento 30. Mais de um milênio depois, em seus Exercícios Espirituais (1548), Inácio de Loiola exortou os seus seguidores a exaltarem o matrimônio, mas exaltarem ainda mais a castidade. De fato, ao se observar a longa lista de santos católicos, verifica-se que somente alguns poucos dentre eles foram casados.


Uma área correlata que também mereceu reparos por parte dos reformadores foi a da sexualidade. Na concepção tradicional, o sexo, embora permitido dentro do casamento, não devia ser desfrutado. De acordo com um catecismo do final do século 15, os leigos pecavam sexualmente no casamento quando, entre outras coisas, praticavam o sexo por prazer e não pelas razões que Deus ordenou, a saber, evitar o pecado da concupiscência e povoar a terra. Por outro lado, havia a situação irregular de muitos religiosos que, não se mantendo fiéis aos seus votos de castidade, praticavam o sexo fortuito ou viviam abertamente em concubinato.


Os líderes da Reforma entendiam que o celibato é um dom de Deus, mas um dom reservado para as poucas pessoas dotadas de força para viverem vidas de abstinência. Mais excelente era o casamento, divinamente ordenado como o único contexto em que a sexualidade podia ser praticada sem pecado. Inspirados pelas Escrituras, esses líderes e seus sucessores expressaram essas convicções tanto em sua teologia quanto em sua vida pessoal.


1. O exemplo de Lutero


O primeiro reformador foi um grande defensor da dignidade da mulher e da importância do casamento e do lar, tendo escrito amplamente sobre o assunto. Em A Vida Conjugal (1522), Lutero afirma que Deus ordenou que os homens e as mulheres fossem impelidos por sua própria natureza para serem frutíferos e se multiplicarem. Portanto, as pessoas deviam casar-se para não caírem em impureza, fornicação e adultério. Aqueles que se sentiam inaptos para uma vida de celibato – o que incluía quase todos – deviam casar-se na convicção de que isso estava de acordo com a vontade de Deus e de que ele iria prover tanto um cônjuge quanto o sustento necessário.


Por muito tempo, a literatura antiprotestante afirmou que Lutero havia rompido com Roma para poder se casar. O fato é que isso só ocorreu vários anos depois do início da Reforma, no dia 13 de junho de 1525, quando ele se uniu à ex-freira Catarina de Bora. Comentando o fato, o reformador assim se expressou: “Repentinamente, inesperadamente, e enquanto a minha mente estava voltada para outras questões, o Senhor me prendeu com o jugo do casamento... Mal posso acreditar, mas as testemunhas são muito fortes”. Lutero tinha uma personalidade intensa e podia ser muito agressivo em suas palavras e atitudes; todavia, ele sempre se referiu à esposa e à sua vida familiar com as expressões mais elogiosas.


Dotada de um temperamento igualmente forte, “Katie” revelou-se uma excelente esposa e administradora do lar, despertando grande respeito e admiração em seu famoso marido. Ele disse certa vez: “Eu sou um senhor inferior; ela, o superior. Eu sou Arão; ela, o meu Moisés”. O casal teve seis filhos: Hans, Elizabete, Madalena, Martinho, Paulo e Margarida. Lutero foi por vezes um pai rigoroso, mas ao mesmo tempo nutria profunda afeição por seus filhos. Ele sentiu profundamente a morte de Elizabete aos oito meses e principalmente a de Madalena, com treze anos, em 1542. Apesar das lutas, podia dizer: “Tenho sido muito feliz em meu casamento, graças a Deus... Ter paz e amor no casamento é a dádiva mais próxima do conhecimento do evangelho”.


2. O reformador de Genebra


Como é bem conhecido, os dois maiores reformadores tinham temperamentos muito diferentes. Enquanto que Lutero era impulsivo e extrovertido, Calvino tinha uma personalidade sensível e introspectiva. Mas isso não impediu que este também usufruísse as alegrias da vida conjugal e familiar. Depois de algumas tentativas mal-sucedidas com candidatas que lhe haviam indicado, Calvino casou-se em agosto de 1540 com a viúva Idelette de Bure, uma de suas paroquianas na pequena igreja de refugiados que pastoreou por três anos em Estrasburgo. O casamento foi oficiado pelo colega e amigo Guilherme Farel, que, escrevendo a outro pastor, disse que Calvino havia se casado com uma mulher “íntegra e honesta”, e “até mesmo bonita”.


Idelette veio da atual província holandesa de Gelderland. Seu primeiro marido, o comerciante Jean Stordeur, um ex-anabatista que havia abraçado as idéias de Calvino, faleceu vitimado pela peste, deixando-a com dois filhos, um menino e uma menina. Em suas cartas a amigos, Calvino disse que nunca imaginou ser possível tamanha felicidade. Idelette mostrou-se uma companheira exemplar e o seu marido se orgulhava do seu bom senso, da sua coragem e da sua espiritualidade calorosa e comunicativa. O relacionamento quase perfeito foi, contudo, sombreado por algumas provações. Os dois cônjuges tinham muitos problemas de saúde e seu único filhinho, Jacques, morreu pouco depois de nascer em 28 de julho de 1542.


Após quase dez anos de harmoniosa vida conjugal, a própria Idelette veio a falecer no dia 29 de março de 1549. Escrevendo pouco depois ao colega Pierre Viret, Calvino afirmou: “Choro a perda da minha melhor companheira... Durante a sua vida, ele foi a fiel auxiliadora do meu ministério”. Nos quinze anos que ainda viveu, o reformador não tornou a casar-se, mas não viveu só – moravam com ele seus irmãos, suas famílias, estudantes e hóspedes freqüentes.


3. A tradição puritana


Muitos herdeiros das primeiras gerações de reformadores preservaram os seus ensinos e práticas no que diz respeito à centralidade do casamento e da família. Um exemplo eloqüente nesse sentido foi dado pelos puritanos, os calvinistas ingleses que defendiam a “pureza” da Igreja da Inglaterra em sua doutrina, culto e forma de governo. Por causa da sua cosmovisão teocêntrica e da convicção de que Deus é senhor de todas as áreas da vida, eles atribuíram enorme importância à família, unidade básica da Igreja e da sociedade. Esses reformados consideravam a família uma pequena igreja, o nível mais básico em que se devia vivenciar a realidade do pacto no relacionamento entre os cônjuges, e entre os pais e os filhos.


Um dos exemplos mais belos dessa ênfase dos puritanos no casamento e na família pode ser observado na experiência do célebre pastor, teólogo e escritor norte-americano Jonathan Edwards (1703-1758), que viveu em Massachusetts, na Nova Inglaterra. Jonathan casou-se com Sarah Pierrepoint em 28 de julho de 1728, quando ele estava com 25 anos e ela com 17. Sarah era filha do ministro congregacional de New Haven e bisneta do primeiro prefeito de Nova York. O casal Edwards teve onze filhos, todos os quais chegaram à idade adulta, fato raro naquela época. Entre os seus descendentes contam-se centenas de pessoas destacadas, incluindo professores universitários, advogados, médicos, políticos, banqueiros, industriais, pastores e missionários.


As pessoas que conheceram esse notável casal testificaram sobre a perfeita harmonia e mútuo amor e estima que sempre existiu entre eles. Edwards tratava a esposa como sua igual e compartilhava com ela todas as suas preocupações e atividades. Eles costumavam cavalgar juntos nos bosques ao cair da tarde para poderem conversar sem interrupções e, antes de se recolherem para dormir, tinham em conjunto os seus momentos devocionais. Edwards também se mostrou um pai atencioso e amigo. Ele tinha o hábito de levar um filho em sua companhia quando viajava para outra cidade e dava toda a sua atenção aos filhos por uma hora antes do jantar, todas as noites. Após visitá-los em 1740, o grande evangelista George Whitefield comentou: “Nunca vi um casal mais afetuoso”.


Conclusão


Um dos argumentos usados pelos defensores do celibato clerical é que se os ministros cristãos se casarem eles não terão tempo para cuidar das coisas de Deus, visto que estarão envolvidos com os interesses e necessidades de suas famílias. Os exemplos acima mostram que isso não corresponde à realidade. Esses três homens extremamente ocupados, que se destacaram como líderes dinâmicos e produziram obras monumentais, também encontraram tempo para glorificar a Deus constituindo boas famílias cristãs. Afinal, como argumentou o apóstolo Paulo, se alguém não cuidar bem da sua própria casa, como irá cuidar da Igreja de Deus? (1 Tm 3.5). Mais que isso, eles mostraram que é no contexto da vida comum, com suas alegrias e tristezas, que a fé cristã deve ser vivida em sua plenitude.


Perguntas para reflexão:


1. Existe contradição no Novo Testamento ao falar tanto sobre o casamento quanto sobre a vida celibatária? Qual dessas duas ênfases é predominante?

2. Quais são as principais características da vida conjugal e familiar enfatizada pelas Escrituras?

3. Todos os reformadores protestantes do século 16 foram homens casados e pais de família. O que os levou a fazer isso?

4. O que a vida familiar dos grandes líderes da Reforma revela sobre eles como homens e como cristãos?

5. Que valores bíblicos e reformados sobre o casamento e a família precisam ser resgatados em nossos dias?


Sugestões bibliográficas:


HALSEMA, Thea B. Van. João Calvino era assim. São Paulo: Editora Vida Evangélica, 1968.

HUNT, Susan. A graça que vem do lar. São Paulo: Cultura Cristã.

LOPES, Augustus Nicodemus; LOPES, Minka Schalkwijk. A Bíblia e sua família: exposições bíblicas sobre o casamento, família e filhos. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.

MALL, E. Jane. Catarina, minha querida. São Leopoldo: Editora Sinodal. Romance histórico sobre Martinho Lutero e Catarina de Bora.

SAUSSURE, A. de. Lutero: o grande reformador que revolucionou seu tempo e mudou a história da igreja. São Paulo: Editora Vida, 2004.

SCHAEFFER, Edith. A celebração do matrimônio. São Paulo: Cultura Cristã, 2000.

VAN GRONINGEN, Harriet; VAN GRONINGEN, Gerard. A família da aliança: instruções bíblicas para a vida familiar que honra a Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 1997.