segunda-feira, 18 de agosto de 2008

A Oração e o Retrato do Caráter

Ricardo Barbosa de Sousa
Tenho visto, com muita freqüência, crentes orando por vagas em estacionamento, de preferência uma bem em frente à loja que precisam ir, ou clamando fervorosamente para que não chova no dia do casamento ou aniversário planejado para acontecer num espaço aberto. Ouço pais pedindo oração para que Deus dê uma força para que o filho que nunca foi de estudar muito passe no vestibular ou num concurso público; ouço também crentes expressando sua gratidão a Deus por terem conseguido furar uma fila, ou vender um carro batido sem que o comprador percebesse.
Orações assim são comuns em nossas igrejas. Contudo, quando reconhecemos que a oração é um meio de relacionamento, ela nos oferece um duplo retrato: de Deus e de quem ora. A oração tem um papel importante no relacionamento entre o homem e Deus, pintando tanto o caráter humano como o divino. O que falamos para Deus (súplica, gratidão, louvor, desejos e situações da vida) revelam nossas motivações, nossa moral e nosso caráter. Da mesma forma, algumas afirmações que fazemos sobre Deus na oração (amoroso, justo, misericordioso, soberano) revelam convicções sobre a natureza divina.
Nem sempre nossa compreensão sobre quem é Deus revela a verdadeira natureza divina. Por exemplo, Deus se revela como um Deus justo e reto e nós o experimentamos como um Deus caprichoso e vingativo; Deus se revela como um Deus sempre presente mesmo em meio ao sofrimento, e nós o experimentamos como um Deus ausente ou distante. O retrato que fazemos de Deus certamente não é mais importante do que o retrato que Deus faz de si mesmo. A percepção humana de Deus precisa sempre ser corrigida e transformada pela auto-revelação de Deus nas Escrituras. E nossas orações quase sempre revelam também a natureza de nosso caráter. Por isso a oração é não apenas um meio de relacionamento, mas também um caminho de transformação.
Elias foi reconhecido como um homem de Deus e Ezequias, como um rei fiel. O caráter de ambos foi afirmado pela oração e pela confiança em Deus em momentos de crise. Em cada caso, suas orações foram apresentadas de acordo com a situação vivida, e deram uma definição do caráter deles. Eles oravam da forma como agiam, seus atos não contradiziam suas palavras. Da mesma forma, as orações de Paulo que encontramos em suas cartas, também revelam seu caráter e sua teologia. Basta um olhar atencioso para vermos em Paulo um coração pastoral, comunitário, resignado e entregue a Deus e ao seu povo, bem como um Deus que é o Soberano Senhor, que se revela a nós por meio do seu Filho e que voltará em glória e majestade.
A oração pinta um retrato de Deus e de quem ora. Se prestarmos atenção na forma e conteúdo da oração, seja aquela que fazemos na igreja, publicamente ou em grupo, ou a que fazemos sozinhos no quarto, teremos um retrato muito fiel e real da igreja, nosso e daquilo que pensamos sobre Deus e sobre seu propósito para a igreja e o mundo.
Provavelmente os pais que oram para que Deus dê uma mãozinha para que o filho preguiçoso passe no vestibular negam em suas orações o caráter justo de Deus, e se revelam também como pessoas que pouco se importam com a justiça. Tornam-se capazes de atribuir a Deus a “bênção” de um negócio ilícito. E orações suplicando a Deus para que não chova apenas para não estragar a festa ou o penteado, as férias na praia ou o churrasco no sábado, revelam o caráter egoísta de quem ora e a concepção de um Deus que não passa de um mágico cósmico.
Se queremos saber quem somos, o que pensamos sobre Deus, quais são nossas motivações primárias e a raiz do nosso caráter, basta um olhar honesto para a nossa vida de oração, que revela tanto a teologia como a antropologia. Porém, a oração não apenas revela as distorções antropológicas e teológicas, mas também é a forma e o caminho para corrigir essas distorções. Pior do que orar errado é não orar. Enquanto permanecemos orando, temos a chance de ver nossa compreensão de Deus e de nós mesmos sendo transformadas.

(Fonte: Revista Ultimato, Edição 304, Janeiro-Fevereiro 2007.)

sábado, 9 de agosto de 2008

Beijing 2008 – Competição, Fraternidade e Perseguição

Alfrêdo Oliveira Silva

Durante o mês de agosto o mundo voltará seus olhos para a República Popular da China, e em especial para Beijing (Pequim) cidade sede das olimpíadas de 2008. Atletas, torcedores, jornalistas, turistas e pessoas vindas dos quatro cantos do mundo, chegarão à capital que conta com mais de 17 milhões de habitantes , mais que o dobro de habitantes de todo o Estado de Pernambuco .

O que será visto por milhares de pessoas ao redor do mundo, não serão as belezas naturais de um país continente; os altos índices da economia que mais cresce nos últimos trinta anos; nem as riquezas de uma cultura milenar retratadas na grande muralha, na praça da paz celestial, na cidade proibida, no Templo do Céu, ou qualquer outra atração do ex-Império Celeste. O mundo olhará para os atletas olímpicos.

As atenções estarão voltadas para pessoas do mundo inteiro que competirão em busca de medalhas de ouro, prata e bronze, em várias modalidades. Cada um representando seu país e tentando superar-se, e aos outros competidores. O espírito olímpico está na alma ocidental que compete e estimula a competitividade. A prática de esportes é prazerosa, saudável e recomendável, mas a competitividade selvagem do dia-a-dia não.

Embora as olimpíadas se apresentem como um evento de congraçamento entre nações, o espírito que predomina é o da competitividade – que vença o melhor – e não o da fraternidade, ideal proposto pelo Cristianismo. Nas olimpíadas os melhores, e com melhores condições de preparo, vencerão e serão recompensados. Nem todos ganharão medalhas, mas todos perseguirão a glória olímpica.

Para o Cristianismo, os valores são outros. Mais importante que a competição e a vitória, é o exercício da cooperação e da ajuda mútua, o exercício da fraternidade. Cristãos são irmãos, e irmãs, e devem ser vistos como colaboradores e não competidores, o Espírito que nos impulsiona é fraterno. Nada contra o evento olimpíadas que ocorre a cada quatro anos, tudo a favor de uma vida fraterna e cooperadora vinte e quatro horas por dia, doze meses por ano.

Ao olhar e torcer pelos atletas, devemos ter em mente que na vida somos companheiros de jornada e estamos no mesmo time, e como cristãos representamos o mesmo Reino, o Reino de Deus.

Mas, há outra coisa a ser observada durante as olimpíadas, e que certamente não ocupará o centro dos noticiários. Trata-se da igreja cristã chinesa. A China tem uma das igrejas mais crescentes e vigorosas do mundo, embora sofra perseguições . Os cristãos perseguidos, aqueles que, em sua maioria, não estão nas igrejas registradas, devem ser lembrados. Pastores presos, locais de culto atacados, multas e confiscos de Bíblias, são algumas das restrições sofridas por estes nossos irmãos.

Neste tempo em que o mundo olha para a China, é preciso conhecer e dar visibilidade ao sofrimento de cristãos – tanto católicos quanto protestantes e batistas –, e de pessoas de outros grupos religiosos como os confucionistas, budistas tibetanos, islamitas, que também sofrem restrições ao exercício de sua fé . Na classificação de países por perseguição, a China ocupa o décimo lugar .

Durante as olimpíadas os cristãos são desafiados a enxergar além das competições e medalhas, que se espera nossos atletas tragam; É preciso enxergar a realidade da vida fora dos estádios, que acontece por trás dos refletores e longe das câmeras da propaganda oficial.

É preciso enxergar as necessidades e sofrimentos dos cristãos chineses, e demonstrar a nossa solidariedade através de cartas e e-mails, além de interceder junto às autoridades por mais liberdade.

É tempo de estimular e viver a fraternidade. A existência fraterna conduzirá a sociedade para uma cultura que promova a dignidade humana. Em uma sociedade fraterna a vida, saúde, segurança, educação, alimentação, trabalho, moradia, liberdade religiosa e tantos outros, são direitos de todos e não privilégio de alguns. No dia a dia os seres humanos devem perceber-se como cooperadores, e não competidores, ajudadores, e não concorrentes. Que as olimpíadas ajudem a promover a paz e a liberdade na China.

Soli Deo Gloriæ!

sábado, 2 de agosto de 2008

Breve Reflexão Sobre o Culto Cristão

Atualmente sob o nome de "culto" tem acontecido coisas esquisitas, por isso faço a breve reflexão abaixo.

O culto não deve ser um show nem um parque de diversões, nem tão pouco a ocasião para o êxtase motivado por mantras.

O culto cristão é o encontro do ser humano pecador, com outros seres humanos que juntos, se aproximam reverentemente de um Deus que é Santíssimo.

O Deus Supremo, Criador dos céus e da terra, através de sua Palavra deixou orientações de como quer ser adorado. O culto cristão precisa ter algumas características bem nítidas: Em espírito e em verdade; racional; com ordem e decência. É assim que a Palavra ensina.

A liturgia deve ser elaborada a partir de uma teologia definida, e um bom exemplo pode ser encontrado em Isaías 6, onde vemos as partes de um culto a Deus exemplificadas no chamado de Isaías: Adoração e louvor (adoramos a Deus pelo que Ele é, e O louvamos pelo que Ele faz),confissão e dedicação, proclamação, e comunhão.

Infelizmente por desconhecimento, desobediência, ou por preferir modismos, muitos têm oferecido fogo estranho no altar do Senhor.

Que Ele tenha misericórdia de nós.
Pr. Alfrêdo oliveira