sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Tudo para com Todos?


J. MacArthur


A dimensão à qual foram trazidas a mera frivolidade e a diversão completamente vazia em alguns lugares de culto é algo que quase excede nossa possibilidade de crer... Não há dúvidas de que todo tipo de entretenimento, que manifesta grande semelhança com peças teatrais, tem sido permitido em lugares de culto, e está, no momento, em alta estima. Podem essas coisas promover a santidade ou nos ajudar na comunhão com Deus ? Poderiam os homens, ao se retirarem de tais eventos, implorar a Deus em favor da salvação dos pecadores e da santificação dos crentes? Detestamos tocar nestas coisas não-santificadas; parece tão distante do andar pela fé e da comunhão celeste. Às vezes, as extravagâncias sobre as quais reclamamos estão até abaixo da dignidade humana e são mais adequadas a um imbecil do que a um homem sensato.
Charles Haddon Spurgeon

Duvido que tenha existido alguém como a irmã Paula em toda a história do cristianismo. Ela se autodescreve como "uma cristã transexual declarada, que prega o evangelho... como uma evangelista com sombra de barba no rosto".2 Irmã Paula nasceu como Larry Nielsen e tornou-se, supostamente, um cristão "em 1950, como um menino de 12 anos inatamente efeminado". Depois de Larry tornar-se Paula, em uma operação de mudança de sexo, alguns anos atrás, uma evangelista pentecostal, amiga de Larry Paula, encorajou-a a começar um ministério na televisão. A revista People descreveu irmã Paula como tendo cinqüenta e três anos de idade, um metro e noventa de altura e um "corpo de jogador de defesa de futebol americano".
Você pode imaginar algo mais incongruente ou mais profano do que um evangelista transexual? Porém, irmã Paula crê que pode ter um ministério mais eficaz ao povo de nossa geração do que um cristão "normal" que utiliza apenas a pregação do evangelho. A filosofia de ministério da irmã Paula é basicamente a mesma que os estudiosos de marketing de igreja advogam, embora, felizmente, nenhum deles desejaria ver sua filosofia sendo levada a esse extremo.
O conceito de que a igreja precisa se tornar como o mundo a fim de ganhar o mundo para Cristo alcançou o evangelicalismo como uma tempestade súbita. Hoje, cada atração mundana contemporânea tem sua imitação "cristã". Temos grupos de motociclistas cristãos, equipes cristãs de musculação, clubes cristãos de dança, parques de diversão cristãos, e já li sobre a existência de uma colônia de nudismo cristã.
De onde os cristãos tiraram a idéia de que poderiam ganhar o mundo através do imitá-lo? Existe qualquer resquício de justificativa bíblica para esse tipo de pensamento? Muitos especialistas de marketing afirmam que existe e já convenceram uma miríade de pastores. Ironicamente, costumam citar o apóstolo Paulo como alguém que defendeu o adaptar o evangelho ao gosto do auditório. Um deles escreveu: "Paulo nos legou aquilo que eu vejo como a perspectiva mais rica acerca de marketing de comunicações, o princípio que chamaremos de contextualização (1 Co 9.19-23). Paulo... estava disposto a moldar sua comunicação de acordo com as necessidades dos ouvintes, de forma a obter os resultados que desejava" . "O primeiro a utilizar o marketing na igreja foi o apóstolo Paulo", ecoa outro.
Afinal de contas, o apóstolo realmente escreveu: "Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns. Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador com ele" (1 Co 9.22,23). Seria isso uma ordem para nos servirmos do pragmatismo no ministério? Estaria o apóstolo sugerindo que a mensagem do evangelho pode ser ajustada a fim de atrair as pessoas, por meio do acomodar-se aos seus apetites por certas diversões e através do agradar seus vícios prediletos? Até que ponto você imagina que ele teria se mostrado disposto a seguir o princípio de "contextualização"?
O Grande Não-negociável
Algo está muito claro: Paulo não era um bajulador de pessoas. Ele escreveu: "Porventura, procuro eu agora o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo" (Gl 1.10). Paulo não modificou nem abreviou sua mensagem a fim de deixar as pessoas contentes. Estava completamente indisposto a tentar remover a ofensa do evangelho (Gl 5.11). Ele não fez uso de uma metodologia que satisfazia as concupiscências de seus ouvintes. Com certeza, Paulo não seguiu a filosofia pragmática dos ministros modernos orientados por marketing.
Não foi uma compreensão de marketing que tornou Paulo um ministro eficiente, mas uma persistente devoção à verdade. Ele era embaixador de Cristo, não o seu secretário de imprensa. A verdade era algo a ser comunicado, não algo a ser negociado. Paulo não se envergonhava do evangelho (Rm 1^16). Estava disposto a sofrer por amor à verdade (2 Co 11.23-38). Não recuou diante da oposição ou da rejeição. Não se comprometeu com incrédulos, nem fez amizade com os inimigos de Deus.
A mensagem de Paulo sempre foi não-negociável. No mesmo capítulo em que fala sobre fazer-se tudo para com todos, Paulo escreveu: "Sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho" (1 Co 9.16). Seu ministério realizava-se em resposta a um mandato divino. Deus o chamara e o comissionara.
Paulo pregou o evangelho exatamente como o recebeu do Senhor e sempre pregou aquela mensagem — "vos entreguei o que também recebi" (1 Co 15.3). Paulo não era um vendedor ou um comerciante, mas um emissário divino. Ele certamente não estava "disposto a moldar sua mensagem" para acomodá-la a seus ouvintes ou para conseguir uma resposta desejável. O fato de ter sido apedrejado e deixado como morto (At 14.19), de ter sido açoitado, aprisionado e finalmente morto por amor à verdade deveria demonstrar que Paulo não adaptou sua mensagem para agradar os ouvintes! E o sofrimento pessoal que ele suportou por causa de seu ministério não é um indicativo de que havia algo de errado com o seu ministério, mas de que tudo estava correto em sua maneira de ministrar!
Então, o que Paulo tencionava dizer ao afirmar: "Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns. Tudo faço por causa do evangelho"? Como sempre, o contexto revela o significado.
Cedendo a fim de Ganhar
Vamos examinar o que, de fato, Paulo estava dizendo nestes versículos:
Porque, sendo livre de todos, fiz-me escravo para com todos, a fim de ganhar o maior número possível. Procedi, para com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei. Aos sem lei, como se eu mesmo o fosse, não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo, para ganhar os que vivem fora do regime da lei. Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns. Tudo faço por causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador com ele (1 Co 9.19-23).
A primeira frase neste breve trecho mostra claramente acerca do que Paulo estava falando. Não estava descrevendo sua disposição de sacrificar a mensagem, mas sua disposição de sacrificar a si
mesmo para pregar o evangelho. Desistiria de tudo — e até mesmo se tornaria um "escravo para com todos”- se isso contribuísse para a propagação do evangelho não-adulterado. Seu desejo de ganhar almas é o âmago deste texto; ele o repete diversas vezes: "a fim de ganhar o maior número possível"; "a fim de ganhar os judeus"; "para ganhar os que vivem debaixo da lei"; "para ganhar os que vivem fora do regime da lei"; "com o fim de ganhar os fracos" e "com o fim de, por todos os modos, salvar alguns". Portanto, ganhar os outros para Cristo era o alvo de Paulo. Para fazer isso, ele estava disposto a desistir de direitos e privilégios, de sua posição, seu cargo, sua subsistência, sua liberdade e, em última análise, até de sua própria vida. Se resultasse na difusão do evangelho, Paulo não reivindicaria direitos, não faria exigências, não insistiria em privilégios.
E foi exatamente assim que Paulo viveu e ministrou. Não modificaria a mensagem para se ajustar ao mundo, mas se comportaria de tal forma que jamais seria, por si mesmo, um obstáculo a impedir que alguém ouvisse o evangelho e comprendesse a mensagem de Cristo. Paulo estava descrevendo uma atitude de sacrifício pessoal, não de comprometimento. Jamais haveria de alterar a nítida e confrontadora chamada ao arrependimento e à fé.
Paulo estava procurando deixar claro que a liberdade cristã precisa estar restringida pelo amor. Esse é o tema que permeia os capítulos oito a dez de 1 Coríntios. É o contexto em que estes versículos se encontram. Os coríntios, com toda certeza, estavam debatendo acerca da natureza e da extensão da liberdade cristã. Alguns desejavam usar sua liberdade para fazer o que bem entendessem. Outros se inclinavam ao legalismo, ressentindo-se daqueles que desfrutavam de sua liberdade em Cristo. Paulo estava relembrando aos dois grupos que a liberdade cristã deve ser usada para glorificar a Deus e servir aos outros, não para satisfazer razões egoístas.
Eis um exemplo de como este princípio se aplica. Alguns coríntios haviam aparentemente perguntado a Paulo se estavam ou não livres para comer carne que havia sido oferecida a ídolos (1 Co 8.1). Era carne coletada dos templos pagãos e vendida a preço baixo no mercado público. Paulo ensinou-lhes que não era inerentemente errado comer essa carne, mas, se fazer isso viesse a colocar uma pedra de tropeço no caminho de alguém, tal ofensa era errada. Paulo resumiu sua resposta com as seguintes palavras: "Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus. Não vos torneis causa de tropeço nem para judeus, nem para gentios, nem tampouco para a igreja de Deus, assim como também eu procuro em tudo ser agradável a todos, não buscando o meu próprio interesse, mas o de muitos, para que sejam salvos" (1 Co 10.31-33).
De que maneira Paulo usou sua própria liberdade em Cristo? "Sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível" (1 Co 9.19). Ele contemplou sua liberdade pessoal e seus direitos humanos como algo a ser usado para a glória de Deus, não para seu próprio deleite. Se pudesse trocar a sua própria liberdade por uma oportunidade de proclamar o evangelho e, desta forma, libertar outros, ele o faria com alegria.


Fonte: Josemar Bessa

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Justificação pela fé: fora de moda?

por Benjamim B. Warfield

Às vezes nos é dito que a Justificação pela Fé está "fora de moda", obsoleta. Seria uma pena se fosse verdade. Isso significaria que o caminho da salvação estaria fechado e "nenhuma passagem" estaria "pregada sobre as barreiras". Não há nenhuma justificação para pecadores a não ser pela fé. As obras de um pecador serão sempre, é claro, tão pecaminosas quanto ele mesmo, e nada exceto a condenação pode ser construído sobre elas. Então onde poderia ele conseguir obras nas quais pudesse fundamentar a sua esperança de justificação, exceto em algum Outro? A sua esperança de Justificação, lembre-se, é de ser declarado íntegro diante de Deus. Será que Deus poderia declará-lo íntegro sem ser com base em obras que são, elas mesmas, íntegras? Onde um pecador poderá arrumar obras que são íntegras? Seguramente, não em si mesmo; afinal, não se trata ele de um pecador, e todas as suas obras tão pecaminosas quanto ele? Ele precisa, então, sair de si mesmo e encontrar obras que ele possa oferecer a Deus como justas. E onde ele poderá encontrar tais obras se não em Cristo? Ou como fará ele com que elas passem a ser suas a não ser pela fé em Cristo?

Justificação pela Fé, portanto, não é oposta à justificação através de obras. Só há contradição com a justificação por nossas Próprias obras. É uma justificação pelas obras de Cristo. A questão inteira, conseqüentemente, é se nós podemos esperar ser recebidos no favor de Deus com base no que nós fazemos, ou apenas com base no que Cristo fez por nós. Se nós esperamos ser recebidos com base no nós mesmos fazemos - isso é chamado Justificação por Obras. Se o nosso fundamento é o que Cristo fez por nós - isso é o que significa Justificação por Fé. Justificação por Fé significa, portanto, que nós olhamos para Cristo e para ele somente em busca de salvação, e vamos a Deus alegando que a morte e a retidão de Cristo são a base da nossa esperança de sermos recebidos no favor dEle. Se a Justificação por Fé tornou-se obsoleta, isso significa, então, que a salvação em Cristo está obsoleta. Não há nada a se fazer, se for assim, a não ser que cada homem faça o melhor que puder para se salvar.

Portanto, Justificação por Fé não significa "salvação por acreditar em certas coisas" em vez de "salvação por fazer o que é certo". Significa pleitear os méritos de Cristo perante o trono da graça em vez de nossos próprios méritos. Pode ser correto acreditar em certas coisas, e fazer coisas certas certamente é certo. A dificuldade em apresentar nossos próprios méritos diante de Deus não é que nossos méritos não seriam aceitáveis a Deus. A dificuldade é que nós não temos nenhum mérito nosso para lhe apresentar. Adão, antes da queda, tinha seus próprios méritos, e porque ele os tinha ele era, em si mesmo, aceitável a Deus. Ele não precisava de Outro para se interpor entre ele e Deus, cujos méritos ele pudesse pleitear. E, por isso, não havia nenhuma conversa sobre ele ser Justificado por Fé. Mas nós não somos como Adão antes da queda; nós somos pecadores e não temos nenhum mérito em nós mesmos. Se nós tivermos que ser justificados, terá que ser com base nos méritos de Outro, cujos méritos possam ser feitos nossos pela fé. E foi por isso que Deus enviou seu Único Filho para que todo que nele crê não pereça mas tenha a vida eterna. Se nós não crermos nele, obviamente teremos que perecer. Mas se nós acreditarmos nele, nós não morreremos, mas teremos a vida eterna. Isso é tão somente a Justificação pela Fé. Justificação pela Fé não é nada mais, nada menos, do que obter a vida eterna crendo em Cristo. Se a Justificação por Fé está obsoleta, então a salvação em Cristo está obsoleta. E como não há nenhum outro nome debaixo do céu, dado entre homens, pelo qual devamos ser salvos, se a salvação em Cristo está obsoleta então obsoleta está a própria salvação. Seguramente, em um mundo cheio de pecadores precisando de salvação, isso seria uma grande pena.

Benjamin Breckinridge Warfield (1851 - 1921) era professor da teologia no seminário de Princeton de 1887 a 1921. Alguns Presbiterianos conservadores consideram-no ser o último dos grandes teólogos de Princeton antes que a separação em 1929 que deu forma ao seminário de Westminster e à igreja presbiteriana ortodoxa.

Fonte: Extraído do site Reformation INK via O Bom Caminho tradução: Centurio. Fonte Original: Publicado originalmente em "The Christian Irishman", Dublin, Irlanda, em Maio de 1911, p. 71.

Via: Ecclesia: Semper Reformanda

Ave Crux, Unica Spes!