sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

SER CRISTÃO É SER FELIZ



Jeremiah Burroughs

“Agrada-te do SENHOR , e ele satisfará os desejos do teu coração” (Salmo 37:4).

Essa felicidade cristã, no entanto, não significa estar feliz porque temos tudo que desejamos. O caminho para a felicidade é o “contentamento”. Mas não devemos pensar que isto signifique aceitar a vontade de Deus passivamente porque não há nada mais que podemos fazer. O que eu quero descrever é a profunda satisfação interior, que os cristãos sentem a respeito daquilo que Deus tem feito para eles. Essa satisfação interior os capacita a permanecerem contentes ao invés de murmurar contra Deus, mesmo quando as coisas parecem estar contra eles.
Todos nós desejamos ser feliz, porém percebemos que isso não é fácil. Queremos possuir tudo o que este mundo oferece, na expectativa de que isso nos trará felicidade. O apóstolo Paulo diferente de nós disse: “Já aprendi a contentar-me com o que tenho. Sei está abatido e sei também ter abundância” (Fil. 4:11-12) Em outras palavras: “aprendi o segredo de estar contente em toda e qualquer situação”
Deus é a única fonte de felicidade verdadeira. Ele não necessita de nada nem de alguém para fazê-lo feliz: mesmo antes de criar o mundo, as três pessoas da Trindade eram completamente felizes entre Si. O que Deus faz para os cristãos é torná-los tão felizes quanto Ele é. Isso é necessário porque eles não são bons ou fortes o suficiente para se fazerem felizes. Deus lhe dá tudo de que precisam, como João escreveu: “todos nós recebemos da sua plenitude, e graça sobre graça” (João 1:16) Desta maneira, os cristãos podem sempre estar contentes, pois, mesmo quando possuem pouco daquilo que este mundo oferece, eles tem as bênçãos espirituais que Deus nos dispensa. Em cristo eles têm tudo que necessitam.
Essa felicidade cristã é por vezes chamada de contentamento. A Bíblia diz:“E, de fato, é grande fonte de lucro a piedade com o contentamento. Porque nada trouxemos para este mundo, e nada podemos levar daqui; tendo, porém, alimento e vestuário, estejamos com isso contentes. Mas os que querem tornar-se ricos caem em tentação.” (1 Tim. 6:6-9).
“Seja a vossa vida isenta de ganância, contentando-vos com o que tendes; porque ele mesmo disse: Não te deixarei, nem te desampararei.” (Heb. 13.5)

Consideremos quatro coisas sobre a felicidade cristã.

I) - A felicidade cristã vem de dentro.
É possível dar impressão de que, devido não estarmos reclamando, estamos contentes. Mas Deus é claro, sabe o que pensamos. Davi disse “Ó minha alma, espera silenciosa somente em Deus.” (Salmo 62.5). Ele sabia que esta era a única maneira pela qual podia realmente ser feliz. Da mesma maneira, esta confiança em Deus, esta felicidade que vem de dentro dos cristãos os afeta completamente. Davi sabia que Deus estava no controle de todas as coisas; entretanto ainda pôde se sentir deprimido porque ele não permitiu que esta verdade influenciasse verdadeiramente sua forma de pensar. Por isso ele escreveu “por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim?” (Salmo 42:5) como ele, temos que pôr nossos corações naquele contentamento que começa dentro de nós e nos torna completamente feliz.

II) – A felicidade cristã está presente mesmo quando ocorrem as tragédias.
Os cristãos se sentem tristes quando estão em dificuldades exatamente como outras pessoas. Quando outros estão passando por problemas, os cristãos se compadecem dele. Eles oram pelos que sofrem, e é bom fazer isso, porque o Senhor Jesus, que sofreu quando tentado, “é poderoso para socorrer os que são tentados” (Heb. 2.18) Embora eles orem a Deus, cristãos maduros que enfrentam problemas não resmungam. Quando são tentados a fazer isso, eles conseguem se controlar. Não reclamam a cerca de Deus; pelo contrário, obedecem e ama a Deus. Se fala de seus problemas, eles o fazem em oração, pois acreditam que Deus pode ajudá-los.

III) – A felicidade cristã é obra de Deus.
Ela não é o resultado dum temperamento feliz por natureza, nem tampouco duma recusa de se envolver com o que está acontecendo ao redor. Até mesmo os incrédulos fazem isso, tentando não ficar preocupados. Todavia, a felicidade cristã é muito mais do que “tentar não ficar preocupado”. O cristão deseja ser feliz continuamente, pois isso glorifica a Deus.

IV) – A verdadeira felicidade do cristão consiste em fazer a vontade de Deus.
Os cristãos não são obrigados a obedecerem a Deus. Eles o fazem voluntariamente e encontram nisso o que os torna felizes. Quando param para meditar, percebem que nada pode fazê-los felizes como se submeterem à vontade de Deus. Eles se contentam em deixar que Deus planeje o futuro, mesmo se seus planos (os planos de Deus) diferem daquilo que eles esperam realizar. Na verdade, eles preferem os planos de Deus aos seus próprios, pois sabem que Ele conhece o que é bom para ele muito mais que eles mesmo. Acima de tudo Ele os entende melhor que eles mesmos! Os incrédulos, que crêem que seu destino está nas suas próprias mãos, só tem de temer o futuro, já que um único deslize pode levá-los ao desastre, ao passo que os cristãos não tem o que temer: eles podem entregar o futuro a Deus e então se deleitarem na sua orientação.
Salomão escreveu: “Confia no SENHOR de todo o teu coração e não te estribes no teu próprio entendimento, reconhece-o em todos os teus caminhos, e Ele endireitará as tuas veredas” (Pv. 3:5-6) Saber que Deus está no controle faz os cristãos felizes enquanto estão em dificuldades tanto como depois quando olham para trás e vêem como Deus os dirigiu. Além disso, esta felicidade cristã persiste, seja qual for o tipo de dificuldade sofrida. Os cristãos não tem o direito de decidirem que espécie de sofrimento irão experimentar; não podem dizer, por exemplo, que estão preparados para perderem suas posses, mas não sua saúde. São felizes, não importa o sofrimento que possa vir. Talvez um sofrimento venha após outro até que suas vidas pareçam ser feitas de problemas; entretanto, lá no fundo do coração eles ainda se encontram verdadeiramente felizes.
Pode dar-se o caso de seus problemas parecerem não ter mais fim mas mesmo assim lá no íntimo são felizes. E Deus, que planejou integralmente suas vidas, é glorificado nisso. Asafe declarou: “A quem tenho eu no céu senão a ti? E na terra não há quem eu deseje além de ti.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Quando Deus nos leva ao Deserto

Quando Deus nos leva ao deserto

"A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo" (Mt 4.1).
Deus nos leva por vários caminhos para realizar Seus propósitos em nossa vida. Alguns desses caminhos são árduos, são secos e pedregosos. Abraão foi chamado de sua cidade, Ur dos Caldeus, para uma grande obra: abençoar todas as nações do mundo. Mas entre Abraão e a terra onde ele deveria começar sua tarefa existia o deserto de Barom. Moisés foi chamado por Deus para dar continuidade à obra de Abraão, uma obra imensa, que era levar todo o povo de Deus até a terra prometida e lá fundar uma nação referencial, para abençoar todas as demais nações do mundo. Mas entre Moisés, o povo e a terra prometida estava o deserto do Sinai.
Jesus foi escolhido por Deus, ungido com o Espírito Santo, batizado. Uma voz clamava do alto no Seu batismo: "(...)este é o meu filho em quem tenho todo o meu prazer". Deus O escolheu para ser o redentor da humanidade, criar uma Igreja e, através dela, abençoar toda a raça humana, transformar o mundo e preparar o caminho para uma nova terra e um novo céu. Jesus é abençoado por João Batista, mas entre Ele e o início da Sua missão estava o deserto da Judéia.
Sabemos que nesse episódio da vida de Jesus (Mt 4,1), o deserto não foi uma obra nem uma vitória do diabo, mas foi obra do Espírito Santo. A passagem diz que o Espírito Santo impeliu, levou, guiou Jesus para o deserto. O próprio Filho de Deus, o Deus em carne, teve que passar pelo deserto. Por que nós não teríamos de passar por ele?
Recentemente, eu estava lendo uma tese que o dr. Russel Sheed citou em um congresso. Tratava-se de uma tese de doutorado em Psicologia Analítica que foi apresentada na Universidade da Califórnia, pela famosa dra. Luize Dortz. Ela apresentou-a com o título: "O papel do Espírito Santo na transformação da personalidade e do indivíduo". Isso aconteceu em uma universidade secular. A dra. Luize Dortz ficou tão impressionada com a própria tese que resolveu transformá-la em tese de doutorado. Ela descobriu, cientificamente, que há certos tipos de pessoas com quem Deus trabalha de uma maneira especial. São pessoas com todas as tendências para serem arruinadas, mas tiveram o quadro de sua vida totalmente revertido. E ela descobriu algo comum entre essas pessoas: todas estiveram no deserto de Deus. Vejamos alguns exemplos que constam nessa pesquisa.
O primeiro exemplo é o de Hans, um alemão que viu sua cidade ser destruída por bombas, viu a mãe com os irmãos dele fugir daquela violência. As memórias de sua infância e adolescência trazem gravadas a violência do pai que batia na mãe. Diante de todas essas memórias trágicas, quem poderia imaginar que Hans se tornaria um missionário, pastor e cientista de renome internacional? O que dizer disso?
O segundo exemplo é o de Grace. Sua primeira memória era a de ter sido estuprada pelo seu pai, que lhe apontava um revólver para a cabeça. Ela teve depressão, cometeu várias tentativas de suicídio. Quem imaginaria que esta mulher se tornaria uma das grandes evangelistas do mundo nos dias de hoje?
Quem são essas pessoas que Deus não permite que sejam destruídas? Dra. Luize Dortz descobriu também algo extraordinário em comum entre elas: receberam a obra do Espírito Santo em suas vidas. Nunca nenhuma delas submeteu-se a um tratamento psicanalítico nem jamais freqüentou um divã nem tomou qualquer droga para esquecer a depressão. Todos foram tratados exclusivamente pelo Espírito Santo. E a dra. Luize, que era agnóstica, se converteu porque descobriu um poder maior que o da Psicologia: só o Espírito Santo pode transformar situações ruins em maravilhosas. Dra. Louize também observou outros aspectos comuns entre essas pessoas que passam no deserto com Deus.
Vejamos alguns:
I - Essas criaturas são pessoas vulneráveis.São pessoas extremamente abertas para tudo o quanto Deus quer. Nem se enclausuram, nem vivem as suas próprias dores no castelo da autopiedade, nem morrem de pena de si mesmas, pois se abrem para o mundo e para tudo o que Deus designa elas.
II - Tais criaturas são buscadoras de Deus.Pessoas que descobriram que no deserto não há mais nada, a não ser o próprio Deus. Seu mais alto desejo da alma é Jesus Cristo. São pessoas que aprenderam a desejar Jesus, acima de todas as coisas. E nesse encontro com Deus, o Senhor foi acrescentando-lhes tudo o que elas necessitavam.
III - Pessoas absolutamente dependentes de Deus, por estarem no deserto de Deus, que nos leva até lá para nos ensinar a dependência.Esta é a característica de quem se resolve a orar e partir para contribuir na obra divina.
Deveríamos nos perguntar até que ponto somos dependentes de Deus. Ralagrum, um judeu, disse o seguinte: "É simples, não precisa de exercício mental. Quanto mais dependente de si próprio e do mundo, da família e dos seus recursos, menos você é dependente de Deus.
"Quanto temos sido dependentes de Deus, queridos?
Aquelas pessoas passaram por grandes e causticantes desertos. Se quisermos passar por uma grande obra de Deus na nossa vida, precisamos passar pelo deserto e aprender que a única e verdadeira liberdade está em servir a Deus e a Jesus Cristo. Não há liberdade maior. Seres errantes quando estão no deserto, não têm nada para ler, nem para ver, nem no que possam segurar. O deserto é a ausência de todas as âncoras emocionais, existenciais, espirituais. É o local do esvaziamento absoluto do homem. Não é ali que está mãe, pai, igreja. Não. Só eu e Deus estamos lá. É nessa escola que Deus nos treina e nos ensina a viver única e exclusivamente dEle.
No deserto, o que importa é apenas o Céu. Isto é uma simbologia riquíssima do que Deus quer nos ensinar quando nos leva ao deserto. Ele quer dizer que devemos viver com os olhos fitos, focalizados no Rei dos reis, Senhor dos senhores. Todas as vezes que os nossos olhos saem de Deus e do Céu e começamos a comparar o nosso ministério e a nossa missão com o ministério de outros, nós começamos a cair, a ser tentados pelo diabo e a viver segundo os pressupostos desse mundo, a vontade do diabo, que sugere que você tenha sucesso na Terra, para ser desconhecido lá no Céu.
Foi essa grande tentação que ele fez a Jesus: "Atira-te do pináculo do templo e serás conhecido na Terra." Jesus disse: "Eu não quero ser conhecido na Terra. Eu quero ter o meu nome honrado nos céus." Eu tenho certeza de que Deus tem preparado um deserto sob medida para cada um de nós.
Há pessoas muito idealistas, portanto Deus as leva para o deserto da mesmice. Há pessoas muito estudiosas que confiam muito nos seus estudos. Desta forma, Deus as leva para o deserto da solidão, para aprender que os relacionamentos no reino são melhores do que as idéias. Há pessoas muito tradicionais que não gostam de mudanças. Então, Deus as leva para o deserto do vento do Espírito, para a fluidez do Espírito, que sopra onde quer e como quer. Há pessoas que são amantes do prazer. Então, Deus as leva para o deserto da dor, para aprender que a suficiência é só de Jesus. Há pessoas que querem ter tudo sob controle. Deus as leva para o deserto das suas fraquezas e lhes mostra na sua face, fraquezas sobre as quais você não tem controle. Então, você tem que deitar os seus joelhos no chão e pedir-Lhe misericórdia e aprender: "Quando sou fraco, sou forte, porque minha fraqueza se aperfeiçoa no poder de Deus. E este poder se aperfeiçoa na minha fraqueza".
Há pessoas que acham que Deus é apenas manso e pacificador. Então, Deus leva essas pessoas para os tormentos desta vida, para descobrir que, às vezes, Deus permite tormentos, para que nós aprendamos que o nosso refúgio é somente Jesus Cristo.
Quando passamos por esse deserto feito sob medida, começamos a descobrir como essa experiência é necessária no plano e nos propósitos divinos de nos guiar.
A vida com Deus vai de um deserto a um jardim, de um jardim a um deserto. Experimentamos jardins na vida, mas todos eles são preparados no deserto. Eu não sei quem é você nem qual é o chamado de Deus para sua vida, mas eu sei que se Deus o levou para um deserto ou está impelindo-o para lá, como o Espírito Santo o fez com Jesus, é porque Ele tem uma grande obra a fazer na sua vida.
Deus me levou para o deserto muitas vezes. Foram desertos extremamente doloridos, onde todas as minhas fragilidades ficaram à mostra e tive que me confrontar com cada uma delas, de modo que, hoje, digo-lhes que foi nessa escola, no deserto, que eu aprendi que no mundo não há nada que possa vencer as nossas fraquezas. No deserto aprendi o versículo: Tudo posso naquele que me fortalece. (Fl 4,13).
O deserto é o momento da identidade, porque lá você só tem uma companhia: a sua sombra, uma falsa projeção, um sósia ilusório, que tem todas as suas formas, mas não é você. Muitas pessoas vivem das próprias sombras, máscaras que "vestimos" no dia-a-dia, que caem no deserto por não se sustentarem no calor. São maquiagens que borram no calor do deserto, personificações que se esvaem e se destroem, porque, lá, não têm utilidade alguma.
Deserto é o momento da identificação do homem consigo mesmo. É lá que descobrimos quem somos na verdade. Quantos anos eu passei na vida enganado sem saber quem eu era! Foi preciso passar por muitos desertos. E eu sei que muitos outros virão para que eu descubra cada vez mais, para que eu veja, pelo espelho da Palavra, que sou pecador, que tudo o que Ele faz através de mim é somente dEle e que não posso ficar sequer com um resquício da Sua glória. Nem um segundo com a glória nem com o aplauso que não me pertencem. Como é difícil aprender isso. Só o deserto ensina a atribuir a glória a Deus e ficar diante dEle, conhecendo nossas próprias debilidades e arrancando de dentro de nós um coração velho, entregando-nos em Suas mãos e pedindo: "Pai, dá-me um coração novo." É no deserto que as ilusões com os bens materiais, com o status, com as palmas caem por terra.
Se você estiver num deserto, não diga que o diabo o levou até lá. É Deus quem está fazendo esta obra, porque Ele consegue ver o que você não vê, enxergando o seu futuro, enxergando o homem e a mulher que Ele resgatou, remiu com o sangue do Filho e a quem Ele preparou um futuro grandioso adiante de você. O preço da unção é um preço de desertos.
JOÃO PEREIRA GOMES FILHO,Advogado, é pastor da Igreja Batista de Manaíra, em João Pessoa (PB).
Fonte: http://www2.uol.com.br/bibliaworld/raiodeluz/30-119/capa.htm